sábado, 13 de março de 2010

Suicídio

Suicídio é uma das maiores causas de mortalidade ao redor
do mundo, especialmente entre sujeitos jovens1. Conseqüente à
sua crescente prevalência, esta condição tem sido considerada
como uma questão de saúde pública2. Recentemente, estudos
epidemiológicos de prevalência têm descrito grandes variações
interculturais e por faixa etária. De modo geral, a prevalência de
mortes por suicídio é mais elevada nos países da Europa Oriental,
mas baixas em países das Américas Central e do Sul. As taxas
dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Ásia figuram na faixa
central3.
No Brasil, 24 pessoas morrem diariamente por suicídio, sendo
que essa informação acaba por ser não divulgada. Assim, o impacto
do suicídio é obscurecido pelos homicídios e pelos acidentes
de trânsito, que excedem em seis e quatro vezes, em média e
respectivamente, o número de suicídios4.
Outros parâmetros têm sido investigados como indicadores
do impacto do suicídio. O impacto do suicídio tem também sido
avaliado em termos de DALYs (disability-adjusted life years). De
acordo com este indicador, suicídio foi responsável por 1,8% do
impacto total de doenças no mundo em 1998. Este índice variou
de 1,7% em países em desenvolvimento a 2,3% em países
desenvolvidos5. Comparativamente, estes índices são similares
aos de guerras e homicídios, e aproximadamente o dobro dos de
condições como diabetes5.
Além do crescente aumento de mortes por suicídio, as tentativas
de suicídio são ainda mais prevalentes. Estima-se que estas sejam
cerca de 20 vezes mais freqüentes na população geral6,7. Resultados
do National Comorbidity Survey (NCS) indicam que cerca de 5%
da população geral norte-americana tentou o suicídio em algum
momento da vida. De modo similar, tentativas de suicídio estão
associadas a significativas morbidades e constituem um preditor
maior de suicídio posterior8,9.
O inquérito epidemiológico do Estudo de Intervenção no
Comportamento Suicida (SUPRE-MISS) da Organização Mundial
de Saúde (OMS) entrevistou 5.987 pessoas a partir de amostras
populacionais de oito cidades localizadas na África do Sul, Brasil,
China, Estônia, Índia, Irã, Sri Lanka e Vietnã. Ideação (2,6-25,4%),
planos (1,1-15,6%) e tentativas de suicídio (0,4-4,2%) variaram
entre os centros pesquisados10. Na área urbana do município de
Campinas-SP, ao longo da vida, 17,1% das pessoas “pensaram
seriamente em por fim à vida”, 4,8% chegaram a elaborar um
plano para tanto e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio. As
mesmas prevalências ao longo dos últimos 12 meses foram,
respectivamente, 5,3%, 1,9% e 0,4%. A ideação suicida foi
mais freqüente em mulheres (OR = 1,7), em adultos jovens (20
a 29 anos: OR = 2,9; 30 a 39 anos: OR = 3,6; comparados ao
grupo de 14 a 19 anos), nos que residiam fora do núcleo familiar
(OR = 4,2) e nos que tinham transtornos mentais (OR entre 2,8 e
3,8)11. A ideação suicida esteve fortemente associada a sintomas
de depressão, especialmente com falta de energia (OR = 4,8) e
com humor deprimido (OR = 4,4)12.
Suicídio é considerado o desfecho de um fenômeno complexo e
multidimensional, e decorrente da interação de diversos fatores1.
É consensual entre os pesquisadores em suicidologia a noção de
que não há um fator único capaz de responder pela tentativa ou
pelo suicídio propriamente dito. Contrariamente, os fatores que
concorrem para este fenômeno ocorrem em conjunto5. Entre os
fatores de risco extensamente estudados na literatura internacional
destacam-se tentativas prévias de suicídio, fatores genéticos, suporte
social e familiar e psicopatologia13-16.
Historicamente, teorias psicológicas têm procurado compreender
os fatores que concorrem para o suicídio. A psicanálise salientou
a forma patológica do processo de luto que ocorre na melancolia:
o sadismo seria investido contra o próprio eu, identificado com
um objeto perdido17. Freud, considerando a importância da
agressividade humana, introduziu um novo dualismo pulsional:
pulsão de vida e pulsão de morte18. Menninger ressaltou que o
desejo de matar, presente no suicida, pode estar dirigido não só
para um objeto interno, já que a experiência clínica reiteradamente
confirma que o suicídio freqüentemente destina-se, como vingança,
a destruir a vida dos sobreviventes19.
A psicologia cognitivista, por sua vez, entende que o risco de
suicídio seria mais elevado quanto mais ideação; o planejamento
suicida, quanto maior o desejo de morte e o poder letal do método
escolhido e, principalmente, quanto mais pronunciado o sentimento
de desesperança20,21. Já para Shneidman, a vivência de uma dor
emocional intolerável, “psychache”, é o que mais caracteriza o
estado de uma pessoa prestes a cometer o suicídio: uma sensação
de turbulência interna e de estar preso em si mesmo22. A idéia de
suicídio surgiria numa situação de constrição do estado perceptivo
(estreitamento afetivo e intelectual).
Este artigo visa revisar sucintamente as contribuições recentes
acerca das características clínicas da depressão que se encontram
vinculadas a casos de suicídio. A seguir, destacam-se esforços de
prevenção, no sentido de, ao se detectar e tratar casos de depressão
em serviços gerais de saúde, diminuir o risco de suicídio.

Um comentário:

  1. Olá amigo. Essa estatística e descrição é bem verdadeira. Penso que ao transmitir isso, de certa maneira, você pode estar tentando dizer que essa realidade é muito próxima e que isso de certa maneira possa o estar incomodando. O que penso é que a estatística é real, mas não traduz todos os lados da moeda, como a força de vontade e o prazer de viver que pode obter uma pessoa ao encontrar uma orientação especial para a vida. Acho que você pode contar comigo e me procurar aqui em Bebedouro, na Clínica da Fafibe.

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