quinta-feira, 18 de março de 2010

Impulsividade, Agressividade e Suicidalidade

Ainda que os transtornos de humor sejam sistematicamente
implicados na etiologia do comportamento suicida, somente
uma minoria dos pacientes que desenvolvem depressão maior
se engajará, em algum momento da vida, em atos suicidas. A
heterogeneidade dos transtornos depressivos não parece explicar
totalmente essa disparidade. O motivo pelo qual não mais do que
15% dos pacientes deprimidos morrem por suicídio, enquanto
outros com níveis semelhantes de depressão não, permanece sendo uma questão de imensa relevância clínica.
Consistentes achados têm indicado que aumento de impulsividade e comportamento agressivo possuem um destacado papel na mediação entre doença mental e suicídio.
Diversas linhas de pesquisa têm abordado a relação causal
entre agressividade/impulsividade e suicídio por meio de diferentes
estratégias metodológicas. Estudos com indivíduos vivos que
tentaram o suicídio são consensuais em demonstrar níveis
significativamente superiores de tais características.
Outros achados corroboram a importância dos traços de impulsividade e agressividade na presença de diagnósticos psiquiátricos e tentativas de suicídio. Mais recentemente, o papel etiológico da impulsividade e da agressividade tem recebido destacado suporte de estudos envolvendo indivíduos que cometeram suicídio, quando comparados com grupos. Comportamentos agressivos e impulsivos estão extensamente presentes não só em indivíduos com depressão maior e suicídio, mas também em vitimas de suicídio que apresentavam outros diagnósticos, tais como transtorno de abuso de substâncias e transtorno de personalidade borderline e automutilação. A associação entre comportamento agressivo e impulsivo parece não ser dependente do quadro psicopatológico.
Impulsividade e agressividade podem constituir, de fato, o elo causal entre depressão maior e suicídio.
Ademais, a utilização de métodos violentos de suicídio também
guarda associação com os níveis de agressividade ao longo da vida.
Descrevemos a utilização de métodos violentos como um
marcador comportamental de agressividade, e demonstraram que
outros correlatos de agressividade e impulsividade (particularmente
abuso de drogas e álcool ao longo da vida) também estão
freqüentemente presentes.
Mesmo após controle estatístico de possíveis confundidores, a associação entre comportamento agressivo e suicídio por método violento se mantém.
Devido à relevância clínica implicada na detecção de preditores
mais específicos de suicídio, e ao fato de que os traços de
agressividade e impulsividade não são restritos a determinadas
categorias diagnósticas, recentes investigações têm explorado
tais constructos em distintos contextos clínicos. Do ponto de vista
familiar, a presença de suicídio na família está associada não só
a uma chance elevada em cerca de três vezes de comportamento
suicida em probandos quando comparados a sujeitos sem história
familiar (13,2% vs. 4,2%, respectivamente). Mais além, a
presença de história familiar também esteve associada a escores
de agressividade e impulsividade significativamente maiores,
independentemente da sua própria história psicopatológica. Em
conseqüência, estima-se que o comportamento agressivo/impulsivo
possa estar na base da ligação entre histórico familiar de suicídio
e novas tentativas por probandos. Estudos de agregação familiar
de suicídio reforçam essa associação, mesmo controlando para
outros confundidores que também apresentam alta agregação
familiar, desenharam um estudo para testar a associação
entre traços de agressividade em familiares de vítimas de suicídio
e mortes por suicídio, com o objetivo de excluir a mediação dos
traços psicopatológicos.
Os resultados apontam que o componente familiar do suicídio é independente da psicopatologia agrupada em famílias. Mais detalhes sobre estudos acerca da transmissão familiar do comportamento suicida podem ser encontrados em recente trabalho de revisão por Bredt e Melhem.
Em pacientes com diagnóstico de depressão maior, comportamentos agressivos e impulsivos também se destacam,
conduziram um estudo de caso-controle com pacientes deprimidos
(104 vítimas de suicídio e 74 controles vivos), demonstrando que
comportamentos agressivos estiveram associados ao suicídio, e que tal associação é ainda mais evidente em sujeitos entre 18 e 40
anos de idade. Subseqüentes estudos enfocaram a distribuição
de risco em diferentes faixas etárias, Recentemente, McGirr et al. investigaram uma amostra de 645 sujeitos com idades entre 11 e 87 anos via autópsia psicológica. Após controle para confundidores e psicopatologia,a interação entre comportamentos impulsivo-agressivos, idade e procura por novidades (novelty seeking) foram capazes de predizer o estado presente de suicidalidade. Adicionalmente, os efeitos dos comportamentos impulsivo agressivos foram mais proeminentes em sujeitos jovens, com diminuição da importância com o aumento da idade.

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