quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Transtorno de Personalidade Borderline

Transtorno de Personalidade Borderline

O Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também muito conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) ou Transtorno estado-limite da personalidade é definido como um grave transtorno de personalidade caracterizado por desregulação emocional, raciocínio “8 ou 80” (“branco e preto”, totalmente bom ou totalmente mau) extremo e relações caóticas. Pessoas com personalidade limítrofe podem possuir uma série de sintomas de transtornos psiquiátricos diversos, tais como ataques súbitos de ansiedade, humor instável, tal como grande sentimento de entusiasmo para depois sentir um grande vazio ou dissociação mental, assim como despersonalização. Com tendência a um comportamento briguento, também é acompanhado por impulsividade muitas vezes autodestrutiva, manipulação e chantagem, conduta suicida, bem como sentimentos crônicos de vazio e tédio. A raiva é caracteristicamente a única emoção verdadeira ou a principal emoção central do borderline; muitas vezes, esses indivíduos são vistos como "rebeldes" e “problemáticos”. O limítrofe é frequentemente confundido com depressão ou transtorno afetivo bipolar. O transtorno de personalidade borderline e o transtorno de personalidade antissocial (psicopatia), juntos são considerados os dois mais graves distúrbios de personalidade.
O transtorno borderline é um grave distúrbio que afeta seriamente toda a vida da pessoa acometida causando prejuízos significativos tanto ao indivíduo limítrofe como às pessoas a sua volta. Frequentemente eles precisam estar medicados (antidepressivos, estabilizadores do humor, e outros.) para tentar reduzir as consequências incontroláveis que a doença traz. Além disso, acompanhamento psicológico é primordialmente muito importante.
Os sintomas aparecem durante a adolescência ou nos primeiros anos da fase adulta (em torno dos 20 anos) e persistem geralmente por toda a vida. Essa fase pode ser desafiadora para o paciente, seus familiares e seus terapeutas, mas na maioria das vezes a severidade do transtorno diminui com o tempo. Pelo fato dos sintomas eclodirem principalmente na adolescência, muitas vezes os pais ou familiares acham que é mera rebeldia própria da idade. Contudo, não fazem idéia que estão diante de um ente com um grave distúrbio.
As perturbações sofridas pelos portadores do TPL alcançam negativamente várias facetas psicossociais da vida, como as relações em ambientes escolares, no trabalho, na família. Envolvimento com drogas, tentativas de suicídio e suicídio consumado são possíveis resultados sem os devidos cuidados e terapia. A psicoterapia é indispensável e emergencial.
A maioria dos estudos indica uma infância traumática (diversas formas de abusos, sobretudo sexual e emocional; separação dos pais, ou a soma de ambos e outros fatores) como precursora do TPL, ainda que alguns pesquisadores apontem uma predisposição genética, além de disfunções no metabolismo cerebral.
Estima-se que 2% da população sofram deste transtorno, com mulheres sendo mais diagnosticadas do que homens.
O termo Borderline (Limítrofe) deriva da classificação de Adolph Stern que descreveu, na década de 1930, a condição como uma patologia que permanece no limite entre a neurose e a psicose. Pelo fato de o termo carecer de especificidade, existe um atual debate se esta doença deva ser renomeada.

Características Borderline

Eu te odeio… por favor, não me abandones."
"Eu mal vejo a hora de que essa fase de rebeldia passe!", "É assim por falta de uma boa surra!" ou "Ele ficou assim na adolescência, isso deve ser da idade ou pura frescura para chamar a atenção!" são pensamentos frequentes de pais ou familiares de um indivíduo com o transtorno de personalidade borderline. Essa forma de pensar é muito comum, sendo que raramente os pais se dão conta de que o problema de agressividade, falta de concentração e até de vontade de terminar o que mal começa, podem ser sintomas de uma doença ou transtorno. Às vezes, os pais têm vergonha de levar o filho ao psiquiatra ou terapeuta, o que prejudica ainda mais o tratamento que acaba sendo tardio, e as consequências piores. Frequentemente eles preferem culpar o próprio filho ou a problemas espirituais. Além disso, muitas vezes eles tendem a acreditar que o indivíduo é assim por ser mal-educado irresponsável ou até mesmo mimado. Contudo, quando os sintomas típicos borderline estão presentes, tais hipóteses são falsas porque, pelo contrário, não se trata de uma pessoa mimada ou mal-educada. E sim de um indivíduo doente e que sofre muito por ser assim, muitas vezes tais sintomas frutos de maus tratos e uma infância traumática para a criança.
Aqueles que sofrem do transtorno de personalidade borderline são indivíduos que afastam aqueles de quem mais precisam. Ao tempo que precisam dessas pessoas, afastam assustadoramente as mesmas. São muito exigentes de atenção e são excessivamente manipuladores, embora nunca admitam. Eles têm profundos traços de masoquismo e sadismo e, de forma geral, são como crianças em um corpo de adulto que não toleram limites. Muito imaturos emocionalmente, são impacientes, não sabem esperar, suas recompensas devem ser sempre imediatas, não toleram frustrações e tendem a colocar a culpa sempre em outros. Isto acontece porque borderlines geralmente foram crianças privadas de uma necessidade básica, especialmente foram negligenciadas emocionalmente em alguma etapa de sua vida emocional que deixaram marcas profundas na personalidade (isso pode ir desde separação dos pais, crianças que foram abusadas sexualmente ou emocionalmente, que sofreram violência física até perda precoce de um ente querido, etc.). Assim, é como se seu desenvolvimento emocional tivesse estacionado drasticamente. Em suma, são pessoas que, crescem e envelhecem fisicamente, mas emocionalmente, continuam uma criança e, infelizmente, muito problemática.
Às vezes, indivíduos borderlines foram pessoas que cresceram com um grande sentimento de não ter recebido atenção suficiente. Eles são revoltados, e buscam caminhos para procurar essa falta de atenção em suas relações; porém, esses caminhos são imaturos e anormais. Frequentemente, na amnese, é achada uma carência afetiva (ex.: ausência do pai), maus tratos, abuso sexual ou negligência.
Os diferentes traumas na infância geram um profundo sentimento crônico de vazio e rejeição, incorporando-se na personalidade borderline que é vivenciada como uma dor dilacerante e intolerante às rejeições e outras frustrações comuns no cotidiano de todos. Essa dor é intensamente sentida em indivíduos borderlines, o que pode estimular o processo auto e hetero destrutivo. Por isso, muitas vezes o borderline torna-se um indivíduo aparentemente rebelde e com um instinto vingativo de maus tratos passados. Os Borderlines são pessoas com memória muito exacerbada para eventos negativos: não são capazes de perdoar, remoem coisas do passado e vivem e revivem intensamente um sofrimento desproporcional aos fatos porque apresentam um juízo de valor muito rígido.Por isso tudo, são frequentemente pessoas facilmente vingativas, rancorosas que, em momentos de ira intensa, podem oscilar entre um comportamento explosivo ou friamente vingativo, passando bruscamente do papel de vítimas injustiçadas para verdadeiros vilões sanguinários e cruéis que não medem esforços para cometer ações maldosas em busca de vingança. Interiormente, eles acreditam estar corretos em suas atitudes e não entendem por que as outras pessoas os olham com espanto e indignação após tais comportamentos. No fundo, são muito imaturos emocionalmente e – embora não demonstrem – facilmente frágeis.
O borderline também é essencialmente insaciável. Em termos de atenção, eles sempre querem mais do que realmente têm. Por mais que as pessoas lhe deem tais afetos, com frequência eles estão a exigir constantemente muito mais do que recebem. Talvez porque quando crianças foram indivíduos teimosos que sempre estariam exigindo muita atenção, sendo esta não suficientemente preenchida. Para o borderline, toda a atenção do mundo não é suficiente. Inclusive, eles tendem a ser "paranóicos", exigentes e desconfiados sempre de que os outros não lhe dão atenção, mesmo que isso não seja a realidade. Eles, sem querer, distorcem a realidade, e acabam por tendenciar tudo para um lado "ruim" ou maldoso das pessoas, acreditando que as outras pessoas não lhe dão atenção, ou que de repente mudaram de comportamento e por isso são más, merecendo assim, punições e vinganças. Borderlines costumam ver e achar coisas inexistentes no comportamento de outras pessoas, o que causa sempre crises de exagero e tempestades em copo d'água. Uma "mudança" quase imperceptível no comportamento de uma pessoa aos olhos de outros, para o borderline é um enorme motivo para se desesperar e acreditar que a pessoa não gosta mais dele. Por isso, o borderline é excessivamente possessivo, acreditando que - após conquistar uma pessoa - a pessoa pertence apenas a ele e mais ninguém. Ninguém mais merece atenção a não ser ele. Caso contrário, ele perceberá qualquer simples atitude como rejeição, o que o fará a dar início a uma série de comportamentos extremos que causam medo e espanto às outras pessoas, muitas vezes terminando em atitudes perigosas tanto para si quanto para a outra pessoa.
Limítrofes são pessoas com instabilidade emocional, ou seja, aquelas que não conseguem manter equilíbrio emocional em situações de tensões ou estresse. Elas frequentemente mudam de humor, emoções e conduta conforme o contexto que lhe são apresentadas. Via de regra, têm baixa capacidade de julgamento e usualmente têm reações grosseiras, acompanhadas muitas vezes de ansiedade. Podem ser pessoas rebeldes ou totalmente tímidas. Esses indivíduos que possuem instabilidade emocional tendem a ser grosseiros, "reclamões" e briguentos. Algumas vezes, essas pessoas podem confundir carência emocional com paixão. Transferem para relacionamentos amorosos a sua instabilidade emocional. Então, são os causadores de brigas excessivas, têm sentimento possessivo, e o borderline vê o outro como se ele só tivesse a obrigação de estar ali apenas para prover o que o limítrofe necessita. Além disso, eles tendem a acreditar que o outro parceiro tem de estar todo o tempo com ele e com a obrigação de não deixá-lo sozinho. Quando o parceiro tem de ir viajar ou quando cancela um encontro, facilmente borderlines ficam furiosos ou entram em pânico, partindo frequentemente para manipulações, com ameaças suicidas. Essa tendência do limítrofe se sentir facilmente ferido ou agredido (pequenos estressores são capazes de deixá-lo odiável) faz com que frequentemente entrem em brigas ou confusões no ambiente intrafamiliar ou até mesmo extrafamiliar. Eles não têm controle de si mesmo, por isso facilmente demonstram irritabilidade e raiva em variadas situações triviais, desde amargura, maus tratos e estupidez até xingamentos e violência. Entretanto, interessante notar que, embora eles demonstrem esse comportamento rebelde em várias situações; em outras, podem contrariamente, exibir total controle. Portanto, são pessoas totalmente imprevisíveis. Em geral, tais conflitos são frutos de explosões em situações contornáveis aos olhos do observador, mas que o borderline não consegue evitar.
Limítrofes são pessoas que passam seu tempo a tentar controlar mais ou menos emoções que elas não controlam realmente. São pessoas que, diga-se de passagem, têm duas vidas. Uma vida quando estão na sociedade e outra vida de comportamentos muito diferentes quando estão a sós. Sua capacidade de esconder o transtorno faz com que sejam vistos, superficialmente, como se não tivessem nada, entretanto suas vidas são sofríveis e um verdadeiro inferno. Pessoas com o transtorno oscilam entre um comportamento adulto e um comportamento infantil; entre uma conduta boa e uma conduta má.
Esses indivíduos são árduos manipuladores. Alguns psiquiatras e psicólogos dizem que borderlines são "pacientes impossíveis", porque frequentemente são manipuladores, pessoas que buscam atenção, perturbam e irritam além de não terem capacidade o suficiente para controlar suas condutas. Agridem a eles mesmos e aos demais que tentam ajudá-los. Em suas relações iniciais (ex.: terapia), por causa da grande desconfiança que eles mantêm, as palavras com frequência não são usadas para comunicar ou exprimir sentimentos. O que existe são as manipulações, testes, controles etc. Eles tendem a defender-se de sentimentos, emoções e lembranças e facilmente testam suas relações através de manipulações. Parece que o borderline está sempre usufruindo de testes e manipulações, a fim de testar as outras pessoas, como elas reagirão a tais testes como agressividade, brigas, chantagens, etc. e, se por acaso, o abandonarão por tais razões. Esses testes, então, são a forma de limítrofes analisarem e ter certeza de que não há jeito de aparecer alguma ameaça de abandono por parte da outra pessoa.

O Vazio e o Tédio

O paciente borderline para viver em paz precisa encontrar um objeto protetor que nunca o deixe. Para isso, eles testam tais "objetos" (as pessoas) para poderem acreditar nisso. Tais testes são manipulações, maus tratos, discussões etc. como forma de que isso atesta que, mesmo através de tais caminhos, o borderline nunca será abandonado. Obviamente, isto traz à tona a grande questão da tolerância das pessoas "alvo" do borderline, afinal, dificilmente as pessoas em sua volta têm tamanha paciência para tais manipulações. O limítrofe parece estar sempre insatisfeito e precisando de mais e mais porque sente um vazio irreparável, um nada, um buraco, uma frustração contínua. Portanto, são pessoas que nunca estão satisfeitas. Exigem demais dos outros, mas nunca se satisfazem, inclusive, não retribuem, demonstrando uma grande engratidão.
Para eles, é como se eles não existissem, sem uma estrutura externa (ex.: cuidador). Com seu amante, podem estar em plena euforia; porém, quando este anuncia que terá de ir, facilmente passam de um humor eufórico para raivoso com manipulações e esforços excessivos para evitar ficarem sozinhos. Se ficarem sós esse momento torna-se tão insuportável que do humor raivoso decaem para a depressão. Seus atos autodestrutivos aumentam de intensidade. Podem fazer tentativas suicidas, sentir que nada mais é real (despersonalização e desrealização), entre outros comportamentos extremos.
Borderlines sentem que estão sempre com um grande sentimento crônico de vazio. Tal sentimento constantemente os incomoda e tendem a achar sempre uma forma de preencher tal vazio, mas com frequência, descrevem que esse sentimento nunca desaparece. Borderlines sentem tudo com uma alta intensidade, sendo que para eles, tudo faz mal, tudo os agride e machuca. Não sabem se proteger, ou ao menos, acreditam não saber. Eles ainda têm sentimentos de ser uma eterna "vítima", incapaz de aceitar suas próprias responsabilidades. São pessoas que não têm uma noção clara de sua identidade. Na realidade, eles não têm uma identidade bem formada, assim, precisam do apoio de outra identidade, causando assim um grande medo à perda e rejeição de tal identidade cujo borderline o considere. A visão que eles têm de si mesmo frequentemente se caracteriza por uma visão flutuante e pouco constante, mudando rapidamente de tal visão. Isso contribui para a grande instabilidade que circula em suas vidas. Quase sempre eles dizem não ter certeza de nada. Ou então, dizem uma coisa, mas em seguida mudam de idéia ou opinião. Seus gostos são totalmente inconstantes, podem gostar de uma coisa, para em seguida enjoar da mesma. Sua identidade, orientação sexual e a visão de si mesmos também assim são baseados. Eles se vêem como estranhos, sem amor e sem doçura. São indivíduos que são escravos das suas próprias emoções.
Demonstram um grande medo excessivo de serem abandonados ou rejeitados, muitas vezes evitando tais acontecimentos. Alguns evitam começar relacionamentos, especialmente pelo medo de ser rejeitado ou abandonado, mais tarde. Quando em algum relacionamento íntimo, este medo é acompanhado caracteristicamente de esforços frenéticos para evitá-lo. Podem fazer manipulações emocionais, especificamente chantagens, como ameaças ou tentativas de suicídio. Contudo, caso a manipulação não funcione, eles podem demonstrar explosões de raiva que terminam frequentemente em auto-agressões, como auto mutilar-se, ou ate mesmo hétero agressões. O medo de ser abandonado é tão enorme nessas pessoas que casualmente sofrem de dissociações, têm distorções da realidade como ter idéias paranóides ou alucinações e, no extremo, praticar impulsivamente o suicídio completo. Além disso, por causa do suposto abandono ou rejeição (real ou imaginado) vindo da pessoa amada, da grande idealização por tal pessoa, eles passam rapidamente para a grande desvalorização desta última, pelo fato de terem sido "rejeitados". Contudo, é notável também que a volta da pessoa cujo limítrofe a considere como seu cuidador, ocasione a remissão de tais sintomas e manipulações. Mas frequentemente eles têm tanto medo da perda que acabam por ser muito possessivos, sem se darem conta que todo esse comportamento prejudica e assusta as pessoas em sua volta. De maneira geral, o transtorno de personalidade borderline é um dos principais distúrbios associados ao suicídio e automutilação. Eles podem tomar muitos medicamentos de uma vez só, com ou sem intenção de suicídio, abusar de drogas e bebidas, auto mutilar-se fisicamente, colocar-se em risco, entre outros atos impulsivos com notável tendência autodestrutiva.

A Desregulação Emocional e Relacionamento Familiar

Borderlines, caracteristicamente, têm dificuldades no controle das emoções e podem ter dificuldade em conviver em grupo. Eles frequentemente exigem toda a atenção do mundo para si e facilmente são tomados pelas emoções. Podem arranjar conflitos com amigos, namorados e familiares com grande demonstração de ciúmes, possessividade e medo de serem abandonados. E ainda com tanta exigência de atenção, com frequência armam confusão com notáveis explosões de raiva como agressividade, ironia, xingamentos e até demonstrações físicas de violência. Por isso, podem viver a criar casos com pessoas de sua intimidade.
Pessoas com esse distúrbio, de maneira geral, são superficialmente adoráveis e simpáticos. Porém, com pessoas de sua grande intimidade (ex.: familiares) eles são tidos frequentemente como irritantes, agressivos, mal-humorados, rebeldes. Tanto que o ambiente intrafamiliar de pessoas com este distúrbio é muitas vezes marcado por brigas e conflitos constantes.
Esses indivíduos constantemente não conseguem manter um bom relacionamento entre seus familiares íntimos que convivem dia-a-dia com ele (ex.: pais e irmãos). Por vezes, o ambiente familiar é repleto de discórdias, discussões e brigas, sendo que estes últimos também são classificados hora como bons, hora como maus. A imprevisibilidade e instabilidade típica de limítrofes contribuem para a geração de conflitos intrafamiliar. Muitas vezes, tais pessoas que convivem com o indivíduo percebem tais características, como humor instável com demonstração de incapacidade de controlar a raiva (ex.: mau humor frequente, mau gênio, sarcasmo, amargura, agressividade constante). Às vezes, borderlines podem ser tidas como pessoas incapazes de demonstrar gratidão, de interessar-se por si mesmo e pelos outros. Os outros, assim como a pessoa que o criou (ex: mãe, pai), podem ser sentidos como estranhos que têm apenas a função de suprir e prover o que ele espera.
Geralmente, a dor física bem como as brigas e discussões podem ser formas de aliviar a tensão interna que se alastra no interior do indivíduo limítrofe. Por isso, com frequência, o borderline se acalma após uma briga com familiares. Enquanto depois da discussão todos ficam mal, como ele descarregou sua tensão, ele age como se nada de importante houvesse acontecido e tende a esperar que os outros reajam assim também.
As pessoas de sua intimidade, facilmente olham limítrofes como estressados, pessoas "de lua" e imprevisíveis. A convivência diária com borderlines pode ser de extrema dificuldade. Porque ao longo de um dia, podem ser tidos como aqueles que de manhã estão de um jeito, à tarde de outro, e à noite de outro jeito. Por isso, o ambiente intrafamiliar é caracterizado por intensas intrigas e conflitos constantes. Frequentemente irritadiços podem tratar hora bem, hora mal aqueles que convivem com ele. Até mesmos seus parentes podem ser divididos hora como "bons", hora como "maus". Portanto, medo, repulsa e raiva são emoções frequentes que borderlines produzem em pessoas de sua grande intimidade. Familiares sempre percebem que são pessoas que têm facilidade em demonstrar agressividade, sendo que dificilmente conseguem controlar tais hostilidades - estas perceptíveis através de mau humor, agressividade constante, amargura persistente e até ataques de rebeldia ou violência.
Apesar disso, quase sempre, socialmente essas características não são momentaneamente percebidas. Pelo contrário, suas relações podem ser superficiais, assim, demonstram ser adoráveis, queridos e simpáticos. Contudo, tais qualidades perdem a força conforme suas relações se tornam íntimas. Muitas vezes, superficialmente, tais pessoas que mal conhecem o indivíduo borderline podem duvidar e não acreditar quando familiares, por exemplo, relatam o comportamento irritadiço e anormal que o limítrofe exibe.

Instabilidade e Inconstância

O perfil geral do transtorno também inclui uma inconstância invasiva do humor, das relações interpessoais, da conduta (comportamento) e da identidade, que pode levar a períodos de dissociação. São pessoas muito instáveis em todos os aspectos de sua vida; seus relacionamentos íntimos são muito caóticos, com tendência a terminar abruptamente de forma explosiva, pois eles são marcados por períodos de grande idealização e grande desvalorização, esforços exagerados para evitar a perda, chantagens emocionais, possessividade e raiva constante. A instabilidade emocional, também contribui para relacionamentos instáveis. O humor do borderline pode ser muito lábil, alternando diariamente entre períodos de depressão profunda, euforia, irritabilidade (não necessariamente nessa ordem). A instabilidade também é intensa na própria percepção de si mesmo, nas atitudes, opiniões e até na sexualidade.
O paciente borderline apresenta em todos os aspectos de sua vida a "difusão de identidade" que pode ser descrita como a recusa em considerar outros tempos e outras diferentes situações, dando prioridade à situação presente e atitudes imediatas. Como se tivessem uma "amnésia" das situações e atitudes anteriores. Assim, forma-se a instabilidade entre os extremos “bons e maus” (8 ou 80, branco ou preto, mas nunca o meio-termo). Os indivíduos limítrofes tendem a caracterizar uma pessoa, objeto ou circunstância apenas pelo presente, como se não existisse o passado ou o futuro, nem outros tempos ou situações diferentes. Por exemplo, o borderline ao perceber que a pessoa cuidadora está com ela, ele tende a classificá-la como "ótima". Quando o cuidador tem de ir embora, este rapidamente passa da grande idealização ("ótima") para a grande desvalorização ("péssima"), desprezando a história em que passaram. Se o cuidador retorna, novamente a pessoa é passada do extremo "péssima" para "ótima". Isto evidencia a grande instabilidade entre os extremos cujos borderlines sofrem. É assim, também, que outras pessoas, objetos e circunstâncias são analisados por limítrofes, sempre oscilando entre o "bom" e o "mau", conforme o presente imediato, deixando de lado o passado, situações remotas e diferentes. Exemplificando, de modo geral, a borderline é aquela jovem que valoriza demais o namorado. Contudo, por menor que seja a contrariedade, já acha que ele não presta mais. Também acontece quando a limítrofe liga para a amiga. Só porque esta não pôde atendê-la naquela hora, a borderline já acredita que não é amada e depois agride a amiga de não dar devida importância a ela.
De forma geral, borderlines estão sempre no extremo e fazem análise extrema das situações externas. Eles passam facilmente do "eu te amo" para o "eu te odeio", é sempre o branco ou preto, mas nunca o cinza. Suas opiniões em relação aos outros, são assim baseadas também, alternando drasticamente entre pessoas "ótimas" e pessoas "péssimas", por isso a frustração é frequente. Assim é evidente que as próprias idealizações desses indivíduos trazem ainda mais enorme instabilidade para eles. Mas caracteristicamente eles têm baixa intolerância às frustrações, porque são emocionalmente hipersensíveis a qualquer estímulo estressante, reagindo sempre de maneira raivosa, com grande dificuldade em controlar fortes emoções. Frequentemente têm explosões de raiva com facilidade, às vezes com evidente demonstração como jogar estressadamente objetos ao chão, ou se auto-agredir.
Por causa da tendência em completamente idealizar ou completamente desvalorizar pessoas, lugares e objetos, os portadores da personalidade limítrofe por vezes podem fazer um mau julgamento de outras pessoas. Muitas vezes fazendo-se assim em se envolver em relações extremamente prejudiciais, que levam a sucessivas crises emocionais.
Em um relacionamento, o borderline exige atenção exclusiva e constante, alguém forte que amenize seu vazio. Quando isso acontece, ele se sente confortável e tranquilo, contudo, teme o abandono do ser amado e frequentemente o inferniza constantemente com medo de que isso realmente se concretize. No momento em que o borderline se vê incompreendido ou ameaçado pelo objeto amado, ele pode ter respostas agressivas. Isso frequentemente surge em situações de cólera intensa ou misturada com explosões súbitas do humor depressivo, revelando gestos e comportamentos a fim de estabelecer um controle sobre o ambiente e as pessoas de tais situações, provocando no outro um sentimento de culpabilidade e remorso.
Esses indivíduos, de maneira geral, trazem consigo sempre grande instabilidade em seus relacionamentos. Apesar da dificuldade em nutrirem confiança por outros, quando eles se apaixonam por alguém, podem referir-se a tal pessoa como "eu o amo". Contudo, quando o amado está prestes a supostamente "abandoná-lo" (ex.: anunciar que tem de ir embora, para a casa), eles podem passar rapidamente de carinhosos para raivosos vingadores, frequentemente demonstrando humor seco, grosseiro e raivoso, com comportamento impulsivo (ex.: dizer que odeia; demonstrar agressividade, tratar mal a pessoa etc.), juntamente, fazem esforços excessivos, para assim evitarem ser deixados. Tais esforços são tão extremos que às vezes cometem atos muito impulsivos, levados por emoções como a raiva. Por exemplo, fingir passar mal, acidentar-se propositalmente, auto mutilar-se, ameaçar suicídio, prender a pessoa, chantagens, agressão e até mesmo perseguir o outro (stalker), entre outros atos extremos. Exatamente por isso, às vezes, os borderlines podem terminar em caso policial, porque são eles que muitas vezes são donos de tais esforços frenéticos e comportamentos excessivamente exagerados que envolvem sentimentalmente outra pessoa.
Frequentemente em relacionamentos íntimos, o borderline demonstra grande necessidade de ajuda por causa de sua depressão e por conta de maus tratos passados, contudo, ao tempo que se mostram depressivos e dependentes de cuidados, de repente, podem maltratar cruelmente a outra pessoa sem o mínimo de remorso, porque acreditam estar sempre certos em suas atitudes. As outras pessoas que são sempre as erradas, as culpadas.
A vida em si do borderline não é estável. Seus relacionamentos bem como comportamentos e sua personalidade em geral não são duradouros. É notável nesses indivíduos constante instabilidade nos seus relacionamentos. Eles podem demonstrar profundos sentimentos de apego e desapego fácil e ambivalente. Ao passo que, se sentem sós, desejam muito a presença do outro, mas quando esta presença se concretiza, podem achar que estão muito próximos e invadindo sua privacidade. É um eterno "eu te odeio - não me deixe", bem como rápida passagem do "eu te amo", para o "eu te odeio". Parceiros afetivos que se relacionam com limítrofes vivem em constante confusão e com frequência se assustam e se irritam com as relações caóticas típicas do borderline. Isso acontece porque limítrofes idealizam e se desapontam a todo tempo. Hora podem amar, mas depois podem odiar. Pessoas que mantêm relacionamento com um indivíduo emocionalmente instável, hora podem se sentir sufocado de tanta exigência de atenção, bem como excessivas manipulações. De repente, podem duvidar do sentimento do borderline que demonstra grande ternura, para em seguida, demonstrar frieza, raiva e crueldade.
Suas opiniões e idéias são facilmente instáveis e contraditórias. Podem dizer com convicção "sim", para em seguida, dizer "não", gostando assim de algo, para facilmente odiá-lo ou vice-versa. Isso também acontece em relação à carreira profissional e sua orientação sexual. Estão constantemente mudando em relação ao que pensam e fazem, e o que irão exercer profissionalmente. Sua identidade sexual é frequentemente marcada por dúvidas e mudanças constantes ou até adeptos à bissexualidade. Por vezes, definem-se a si próprios como "hora uma coisa, hora outra coisa". Quando estão convictos de algo, de repente, vêem-se cercados por dúvidas contrárias novamente, por isso, a indecisão nessas pessoas é comum. Até a própria aparência física do limítrofe tende a ser instável. De maneira geral, são pessoas que não conseguem ficar estáveis. Por isso, são intolerantes à monotonia e rotinas, facilmente contrariando e quebrando regras, bem como desistindo ou desanimando facilmente de atividades rotineiras ou que exigem certa monotonia.
Borderlines frequentemente não têm persistência o bastante para continuarem um projeto, tarefa ou objetivo. Eles tendem a iniciar, porém, dificilmente terminam. Enjoam, desanimam ou desgostam facilmente. Por isso, a vida do limítrofe é uma instabilidade contínua, sejam em seus projetos, relacionamentos, preferências ou comportamentos. O borderline não é capaz de se ligar por muito tempo a coisa alguma que não seja, de fato, algo de seu total interesse.Por isso também dificilmente mantêm um relacionamento por muito tempo, um emprego estável, um objetivo constante, um gosto ou preferência interna estável. Na realidade, a inconstância é a palavra chave da vida do borderline.
Limítrofes estão sempre à beira entre o amor e o ódio. Eles amam o objeto (ex.: cônjuge), mas em seguida, por motivos fúteis e até mesmos insignificantes de repente passam do amor para o ódio, como se, para o borderline, as pessoas estivessem sempre oscilando entre o ótimo (ideal) e o péssimo (pior) e vice-versa. Sem meio termo e sem a conscientização de que o ideal não existe, nem mesmo o péssimo. Eles tendem a idealizar as pessoas por qual querem como seus cuidadores, contudo, não aprendem que o ideal não existe, por isso estão sempre insatisfeitos. A pessoa "ideal" parece sempre depender do que o borderline necessita. Caso a pessoa "ideal" negue, ignore tal necessidade, ou frente a recusas, o borderline rapidamente passa do amor para o ódio. Por exemplo, é o caso da paciente que quer ouvir apenas as coisas que deseja, pelo terapeuta. Quando o terapeuta diz coisas na qual ela não deseja, do "bom", rapidamente o terapeuta é passado drasticamente para o "mau". Isto mostra que borderlines mudam de um extremo ao outro, por pouquíssimas coisas.
Algo muito notável nesses indivíduos é o extremismo em relação ao amor e ódio. Quando alguém é amado por ele, a pessoa merece ser tratada de forma especial, carinhosa e muito querida. Quando alguém é odiado pelo borderline, a pessoa merece vingança, ódio e infinitas crueldades. Em suma, a pessoa amada é vista como um deus, e a pessoa odiada, como o demônio.
A vida do limítrofe é dividida sempre entre boa e má. Péssima ou ótima. Mas nunca o neutro ou meio-termo. Eles próprios dividem as outras pessoas como "totalmente boas" ou "totalmente más", mas nunca reconhecem a neutralidade das outras pessoas. Ou a pessoa é ótima, ou a pessoa é péssima, por exemplo.
O fato de borderlines serem extremistas ("tudo ou nada", "agora ou nunca"etc.) faz com que tenham visões assim extremistas até mesmo de seus objetivos e futuro. Quando consegue iniciar um projeto (estudos para o vestibular, emprego, entre outros planos em longo prazo), ele é frequentemente presunçoso: sua meta é ser reconhecido ou nada valerá a pena. Como em geral, não vai ser reconhecido imediatamente, ele abandona a tarefa prematuramente, sem se quer terminá-lo.Tal atitude por recompensa apenas imediata, com desprezo à paciência de esperar, torna-o frequentemente paralisado e sem objetivos concretos. As tarefas do dia-a-dia também assim são raciocinadas. Quando a recompensa não é imediata, eles abandonam tal projeto ou têm dificuldade em começá-la, dando uma errônea imagem de "preguiçosos" ou "fracassados".
Em geral, as pessoas na qual se relacionam superficialmente ou que apenas está no início de um relacionamento com um borderline, não fazem idéia das perturbações e relações caóticas que vão ser recebidos em tais relacionamentos. Contudo, apesar de tudo isso, obviamente os indivíduos com o transtorno de personalidade limítrofe frequentemente necessitam de muita ajuda e apoio, embora possam fazer de suas relações um verdadeiro "inferno". Eles não têm esse comportamento de forma proposital, pois é notável que sejam pessoas muito conturbadas emocionalmente. A pessoa que está com o borderline tem de estar ciente que estão diante de um grave transtorno, uma patologia dilacerante tanto para o próprio enfermo quanto aos familiares e pessoas próximas.

Narcisismo e Agressividade

Essas pessoas têm dificuldade em avaliar as consequências de seus atos e de aprender com a experiência e, então, por isso erram e repetem o erro, nunca aprendendo. São indivíduos tão exigentes e imprevisíveis que assim tendem a afastar todos aqueles que o cercam. Além disso, são pessoas que não têm necessidade, eles têm urgência. Não sabem adiar e não aguentam esperar.
Borderlines também tendem a funcionar muito mal, conforme o estresse. Quanto mais estressados e pressionados, ainda mais pioram os sintomas. Além disso, eles sempre tendem a contornar a situação e colocam a culpa em outros, seja por suas deficiências, decepções, responsabilidades ou problemas. Também vivem da gratificação, especificamente a imediata e geralmente querem ser livres para fazerem o que querem. Contudo, ao mesmo tempo desejam ter atenção. Na verdade, são eternas crianças em um corpo de adulto, por isso aparentam estar se fazendo de "vítima", quando na realidade não estão.
"Eu os agrido, vocês me devem, vocês precisam fazer tudo por mim e eu nada por vocês" é frequentemente um lema em mente dos borderlines. Quase nunca eles se importam com as necessidades alheias, porque tendem a priorizar as suas. Acusam de forma egoísta e injustamente que seus pais deveriam gastar mais dinheiro com o indivíduo borderline, do que com eles próprios, por exemplo. Ou então exigem toda a atenção, paciência e carinho para si mesmos ("Você tem que me tratar sempre bem.") e pouco retribuem ("Eu te maltrato, mas você não pode me maltratar, apenas me dar carinho e apoio."). Isto evidencia um "quê" de egoísmo típico traço narcisista no paciente borderline, por isso tem dificuldade em perceber o lado do outro, ou de distinguir o rosto do outro, só conseguindo visualizar suas próprias necessidades. Interesses genuínos são raros. Se, por acaso, suas necessidades são ignoradas, borderlines sentem-se profundamente irritados por não terem sido levados em conta. Segundo Kernberg, é a difusão de identidade responsável por tais percepções empobrecidas. Como o próprio borderline não tem uma identidade bem definida, obviamente, eles têm grande dificuldade em enxergar o outro, afinal, não consegue enxergar-se com precisão. Por causa dessa dificuldade em enxergar o outro, o borderline pode ser notavelmente difícil em ter amigos ou namorados, ou então, mantê-los. Ele se aborrece com facilidade com qualquer assunto que não lhe diga a respeito, necessitando sempre ser o centro de tudo. Como nem sempre isso ocorre (ou então, ocorre esporadicamente), ele se irrita excessivamente podendo causar sérios prejuízos em tais relacionamentos.
Apesar do histriônico desejar também ser sempre os centros das atenções, a grande diferença, é que quanto tudo gira em seu redor, ele sente sua carência afetiva momentaneamente preenchida, nada mais lhe falta. Nesse caso, a outra pessoa existe e é levada em conta a sua existência. Quanto ao borderline, seu vazio é momentaneamente preenchido, entretanto, a outra pessoa existe apenas para satisfazê-lo naquele instante.
As outras pessoas regularmente vivem a pedir que tais pessoas "se acalmem", porque limítrofes são frequentemente vistos como estressados ou rebeldes. Contudo, frequentemente eles não têm controle algum sobre si mesmo e não têm confiança por ninguém, nem se quer por pessoas íntimas, como seus familiares próximos.
Limítrofes são pacientes que têm uma grande incapacidade em haver relações humanas "normais" e dão a aparência de não se ressentir com as emoções de outros humanos. Eles não têm paciência por nada e, assim, se estressam ou irritam-se facilmente, até por coisas banais. Por isso, apesar do borderline conseguir demonstrar certa "normalidade" em várias situações triviais do cotidiano, com frequência exibem escandalosamente a incapacidade em controlar sua raiva (ex.: acessos de mau humor por ter que esperar a ser atendido no hospital. Ou tratar grosseiramente o médico). De forma geral, eles reagem normalmente até o momento em que seu humor radicalmente muda para de repente ter um ataque de raiva ou grosseria, brigando com todo mundo.
Borderlines podem demonstrar com frequência mau humor e agressividade, especialmente com pessoas íntimas. Porém, geralmente saem de seus ataques de raiva como se nada tivesse acontecido, e não conseguem entender por que o outro ficou magoado, demonstrando assim uma dificuldade em compreender a realidade e os sentimentos alheios. Eles sempre tendem a achar que têm a razão de tudo e facilmente exprimem um bloqueamento na interpretação dos sentimentos de outras pessoas.
Quando o borderline crê ter sido tratado de maneira injusta (que seja real ou não), ele reage agressivamente e impulsivamente. Às vezes, muitos gestos de outras pessoas são interpretados falsamente ou qualificadas como hostis. Esses indivíduos têm dificuldade em interpretar justamente o comportamento de outros. Sua percepção sobre outros é muito instável e distorcida sempre para desconfianças. Acreditam que as outras pessoas não são nada confiáveis e são especialmente maldosas.
Pelas pessoas de fora, erroneamente o borderline é classificado como "mimado", rebelde, estressado, louco ou apenas o "seu modo de ser". Contudo, seu "modo de ser", na realidade, é um modo de ser doentio.
O borderline frequentemente tem dificuldade em relação a limites. Eles não conhecem limites e necessitam de limites para se sentirem seguros, entretanto, eles tornam-se agressivos ou violentos caso uma oposição frontal venha ao encontro deles. Quase nunca colocar limites em limítrofes serve como uma atitude significativa, porque eles tendem a entender isto de forma errada, como uma atitude de rejeição. Os limites podem e devem ser colocados, mas com muita cautela, para que eles não se sintam ameaçados e maltratados.
Nas relações íntimas, borderlines podem ser francamente insuportáveis, irritantes ou assustadores. Ao tempo que se mostram carentes de afeto, com grande necessidade de apoio e cuidado, podem se mostrar muito manipuladores e irritantes. Facilmente se irritam por qualquer coisa e sua afetividade é marcada por ansiedade, desespero, raiva ou depressão, sendo que tais emoções não são dissimuladas. Demonstram agressividade ou raiva intensa inadequadamente. Eles necessitam da outra pessoa a todo instante, podendo parecer egoístas porque se comportam como só estão ao lado de alguém, para receber cuidado e afeto, sem se importar se suas manipulações emocionais e maus tratos estão a prejudicar ou não o outro. Na realidade, esses indivíduos raramente experimentam emoções genuínas, por vezes sentem um vazio afetivo, sendo que a raiva é a emoção mais sentida nessas pessoas. Contudo, quando sentem emoções plenamente razoáveis, tendem a proteger-se delas. Muitas vezes evitam ou negam sentimentos com medo de terem alguma frustração e machucarem-se mais ainda. Podem, ainda, tentar defender-se e dissimular sentimentos e contorná-los, demonstrando frieza ou desprezo, entretanto, por dentro, corroem-se de decepção e medo de serem rejeitados. Assim, suas vidas tornam-se mais instáveis, porque tendem a mudar de amizades, grupos, cidades etc. que consideram "ameaçadoras".
Eles têm um profundo e excessivo medo de abandono e rejeição, sendo que suas rupturas e frustrações sentimentais quase sempre terminam em depressão, tentativas de suicídio ou automutilação e até, regularmente, param no hospital. Eles têm intensos temores de se sentirem rejeitados ou abandonados, sendo que trazem consigo um sentimento de que sem o outro, não podem dar continuidade à vida. Tais decepções amorosas são muito intensas, dolorosas e insuportáveis em borderlines. Frequentemente sentem um intenso sentimento de vazio e um grande medo de fundir-se ou desaparecer.
É comum o borderline ser muito possessivo e controlador. Por causa disso, pessoas muito dependentes, influenciáveis e sugestionáveis, como a personalidade histriônica e dependente facilmente sofrem num relacionamento com um borderline, por exemplo.
Em relação ao relacionamento familiar, o borderline exige demais da sua família que pode, com razão, cansar-se das suas exigências e das suas agressões.
O borderline pode se tornar agressivo quando contrariado. Como é uma pessoa sensível e perspicaz, ele saberá como agredir, conseguirá escolher pontos vulneráveis dos circunstantes. A tendência da família e pessoas de sua intimidade, nesse momento, será considerá-lo manipulador, agressivo, esperto, capaz de grandes atrocidades. Entretanto, na realidade, o borderline é por si uma pessoa frágil e delicada, mas que, sem querer, demonstra o contrário. Ele agride por total desespero. Sua violência, geralmente, ocorre com mais frequência quando se sente rejeitado, incompreendido ou contrariado.
O borderline submete frequentemente seus familiares a algumas torturas, exigindo e agredindo, embora com isso estejam apenas tentando reviver experiências passadas na quais a relação entre ele e seu cuidador não foi capaz de lhe proporcionar boas condições emocionais. Em geral, o borderline tenta refazer o caminho não realizado no início de sua vida, com as mesmas pessoas (pai, mãe ou outros responsáveis, por exemplo) que não foram capazes de fazê-lo anteriormente.
Como o borderline tem a tendência de não enxergar o outro, vinculando-se apenas a seus interesses mais imediatos, às vezes ele pode tomar atitudes pouco recomendáveis com seus familiares e pessoas íntimas. Eles podem trair, mentir, criticá-los, pôr sempre a culpa em outros, colocá-los em situação financeira difícil, esconder, querer destruir o que o outro possui, querer se vingar e muitas outras coisas do gênero. São atitudes ditas sociopáticas (ou psicopáticas), que menos do que punição, exigem compreensão para não mais se repetirem. Contudo, a família quase sempre não entende isto, sendo assim uma tarefa difícil de convencer a família que o borderline, assim como sociopatas, dificilmente aprende com seus erros e punições. Para eles, raramente castigos e punições funcionam. Pelo contrário, quase sempre tais punições são seguidas de mais agressividade e raiva, por parte dos borderlines, que entendem isso como rejeição. Não que o borderline não precise de limites destas atitudes. Por causa de seu narcisismo, ele considera muito justo que tudo seja para uso próprio (e de preferência, imediato), que tudo esteja voltado para ele. É claro, entretanto, que ele tem de saber o quão importante é reconhecer que é impossível ele continuar a ter atitudes egoístas, essencialmente porque tais atitudes frequentemente afastam as pessoas das quais ele tanto necessita.
No entanto, o borderline não somente agride os outros, como também se auto-agride. Frequentemente a auto-agressão ocorre de forma manipulativa, para causar no outro, um sentimento de culpa e arrependimento. A automutilação é uma das principais características do transtorno. Tais atitudes impulsivas podem ser vistas por inúmeras formas e são tidas como triplo sentido: Ao tempo que significam desespero, depressão e dor emocional atenuada com a dor física, a automutilação pode ser uma forma de conseguir atenção, bem como culpar pessoas à sua volta, em momentos de raiva. Alguns atos autodestrutivos frequentemente usados por borderlines podem ser se cortar, queimar, arranhar, bater-se, cutucar-se, roer unhas e pele além de abusar de medicamentos, expor-se a acidentes e situações perigosas, não se importar com sua saúde expondo-se a doenças. Acontece também de abuso de substâncias psicoativas, energéticos e café, ingestão doces em exagero, dirigir imprudentemente, dormir em excesso (hipersônia) e praticar sexo inseguro. Gastar dinheiro sem controle, comer compulsivamente, roubar utensílios de pouco valor monetário (cleptomania) entre outro comportamento prejudicial a si próprio também ocorrem. Engajam-se em tais comportamentos impulsivos para se libertarem de sentimentos crônicos de vazio, mas que frequentemente causam grande arrependimento após cumprir essas ações. Às vezes, as outras pessoas podem perceber ou questionarem-se sinais evidentes de automutilação em borderlines (ex.: vários arranhões percebidos no braço, hematomas ou cortes). Mas via de regra, eles tendem a apresentar argumentos implausíveis ou pouco explicativos em relação a tais ferimentos, com medo de que descubram seu comportamento autodestrutivo. Por exemplo, podem dizer que não sabem de onde tais hematomas apareceram ou dizer que se machucaram sem querer com uma faca. Pessoas com o distúrbio, também pode haver períodos em que se isolam socialmente.

Desconfiança e Histeria

Eles estão sempre a reclamar de algo, talvez querendo sempre manter um cuidador perto de si, mas não têm capacidade o suficiente para nutrir uma relação saudável e estável. Para isso, eles são vistos como exímios manipuladores tendendo a manter perto de si a qualquer custo outra pessoa que seja sua "cuidadora". Isso pode ser conseguido de várias maneiras, entre elas, ficar doente emocional ou fisicamente é frequente. Primordialmente, manipulando se fazem de ingênuos a fim de conseguirem um vínculo. Entretanto, acabam por criar sérias confusões em tais vínculos, mas sempre tendem a se fazer como as vítimas injustiçadas. Assim como pessoas portadoras do transtorno de personalidade histriônica, limítrofes podem glorificar doenças podendo estar cronicamente doentes (ex.: depressão, gripes que não saram, novos sintomas que sempre aparecem sem causa aparente, queixas hipocondríacas etc.).
Indivíduos limítrofes também têm altas tendências às dissociações, histeria e podem ter problemas com amnésia, frequentemente com falhas de memória. Eles também têm altas taxas de desenvolvimento ao transtorno dissociativo de identidade (personalidade múltipla), isto é, quando um indivíduo eclode mais de uma personalidade para lidar com as situações estressantes.
Às vezes, o comportamento de alguns borderlines pode demonstrar como obtinham carinho e consideração, em épocas remotas (especificamente quando crianças). Por isso, eles podem ocasionalmente mostrar um comportamento francamente sedutor para conseguir cuidado, alternando drasticamente, após a intimidade, o papel entre o sedutor e o vingador de maus tratos passados.
Essas pessoas podem mostrar-se simpáticas socialmente, mas em geral, as relações interpessoais desses indivíduos podem ser escassas. Principalmente porque borderlines têm dificuldade em nutrir confiança em relação aos outros, por vezes são desconfiados e têm reações paranóides. Sendo assim, suas relações geralmente são superficiais. Quando estabelecem um relacionamento mais íntimo, o comportamento anormal fica exageradamente evidente.

Reatividade do Humor e Impulsividade

Borderlines têm frequentemente flutuações do humor intensas, imprevisíveis e constantes. De manhã, podem ver a vida como muito aceitável. À tarde, bruscamente sentem um grande vazio com intensa vontade de se suicidar. E, à noite, radicalmente seu humor novamente muda e sentem uma grande ansiedade com desejo compulsivo de se acabar em guloseimas, por exemplo.
A impulsividade no borderline sempre está relacionada à desesperança, falta de apoio, intensa sensação de rejeição e vazio, o que leva, no desespero, por atos impulsivos autodestrutivos.
O borderline é confundido com frequência com quadro maníaco. Isto ocorre porque ele pode apresentar-se acelerado ou animado, por estar apaixonado por alguém e sendo correspondido, se sentindo amado, por exemplo. Angustiado ou delirante, também se encontra acelerado. Nestes casos, a confusão com uso de drogas ou bebidas alcoólicas também é frequente. Contudo, ele pode passar da animação para a depressão rapidamente, sempre dependendo das circunstâncias a que esteja submetido.
Frequentemente a depressão e o transtorno afetivo bipolar são confundidos com a desordem borderline de personalidade. Contudo, talvez uma das principais diferenças seja que além de todos os outros sintomas típicos de limítrofes, tanto a depressão unipolar como a da bipolaridadade, se caracterizam por sensação de culpa, inferioridade com uma tristeza de base. Enquanto isso, a depressão do borderline se caracteriza essencialmente em razão de um vazio existencial, um buraco nunca preenchido, uma vida sem sentido, do tédio diante de seus objetivos e idéias de fracassos de frustração em relação a ideais não atingidos. Na depressão, o sentimento de inferioridade e culpa estão sempre presentes. No borderline, esses sentimentos são inexistentes e são substituídos por raiva constante. Como o borderline também pode se sentir muito angustiado, podendo passar dias e anos na cama, isso frequentemente é confundido ainda mais com a depressão (uni ou bipolar). Outra diferença importante entre os transtornos é que como o borderline precisa sempre de uma pessoa consigo que lhe minimize o sentimento de vazio, quando uma pessoa significamente importante está presente, o limítrofe permanece tranquilo, enquanto sente que a presença do outro está evidente e cuja sensação de abandono está ausente. Diferente do bipolar que tendo ou não uma pessoa consigo, continuará a sentir-se depressivo, triste e mal humorado.

Início dos Sintomas e Estatísticas

Frequentemente, na etapa inicial (ex.: começo da adolescência, por volta dos 13 anos de idade) da eclosão dos sintomas do transtorno de personalidade limítrofe, sintomas como má adaptação social, baixo rendimento escolar, comportamentos anormais. Bem como déficit na regulação dos afetos, agressividade, conflitos no ambiente familiar, tentativas de suicídio e depressão grave são frequentes. A etapa secundária, no fim da adolescência ou início da idade adulta (na faixa dos 18 aos 21 anos), todos os sintomas propriamente ditos ficam evidentes, tendo seu auge por volta dos 25 anos de idade, causando grande prejuízo. Contudo, é sábio que o transtorno tende a ser atenuado conforme a idade, sobretudo próximo dos 40 anos de idade. Talvez pelo fato de que ao passar do tempo, as pessoas ficam menos enérgicas e mais “maduras emocionalmente” que aos 20 anos de idade. Assim como todos os transtornos de personalidade, quase nunca borderlines acreditam sofrer de uma patologia ou que sua conduta e comportamentos são muito problemáticos. Eles tendem a culpar os outros, como causadores de discórdias e outras atitudes típicas de fronteiriços, em geral com argumentos implausíveis, e acreditam que "são normais", mas só um pouco exagerados em tudo. As estatísticas apontam que 93% das pessoas portadoras do transtorno de personalidade borderline também apresentam um transtorno afetivo concomitante, especialmente depressão nervosa e transtorno afetivo bipolar. Além disso, estima-se também que 88% apresentam um transtorno de ansiedade, especialmente o transtorno do estresse pós traumático e diversas fobias em geral. A conduta suicida no borderline pode ser maior naqueles com história prévia de tentativas de suicídio, história de abuso sexual e comorbidade com abuso de substâncias e/ou depressão nervosa.Comportamentos histriônicos e psicopáticos são fenômenos fortemente presentes em borderlines. Muitas vezes, o borderline é confundido com o psicopata e histriônico por apresentarem comportamentos semelhantes e, não raramente, ocorrem simultaneamente. No padrão geral de patologia grave, as famílias de pacientes borderline têm como características mães intrusivas e dominadoras e pais distantes, sendo que as relações conjugais são predominantemente conflitivas. Em suma, o transtorno de personalidade borderline é tido como um dos transtornos mentais mais devastadores, sobretudo na área de relacionamentos interpessoais, sendo também dos mais difíceis de ser tratado.

Características Resumidas

Pensamento extremista

Borderlines têm raciocínio 8 ou 80, branco ou preto, amor ou ódio, ótimo ou péssimo, perfeito ou terrível mas nunca o cinza ou meio termo.
Eles vêem as pessoas drasticamente como perfeitas ou terríveis. Para eles, não existe o "mais ou menos", ou a pessoa é perfeita ou a pessoa é terrível. Se não é perfeita é terrível e vice-versa;
Se a pessoa é perfeita, ótima ou boa ela merece ser tratada muito bem, como um deus. Quando a pessoa é horrível, péssima ou má, ela merece ser tratada muito mal, como um demônio;
Eles têm esse pensamento também consigo mesmos: se hoje eles se vêem como perfeitos, eles acham que merecem serem tratados como os melhores, como os principais e terem toda a atenção do mundo, caso contrário, eles se tornam terríveis, merecedores de maus tratos, punições e auto mutilações;
Pensamentos "tudo-ou-nada" aparecem em muitas outras áreas da vida do borderline. Quando há um problema, algumas pessoas com desordem borderline podem sentir como se existisse apenas uma solução. Uma vez que a ação é feita, não há retorno. Por exemplo "faça tudo, ou não faça nada". Uma mulher no trabalho, recebeu novas ordens na qual ela não gostou, sua solução foi deixar seu emprego;
Têm dificuldade em terminar o que começam. Isso vai desde uma simples leitura de um livro, até a desistência ou interrupção de um projeto importante.
Podem ser tidos erroneamente como "preguiçosos" por causa desse pensamento;
Não conseguem ver o "lado bom" e o "lado ruim" de cada pessoa, objeto ou circunstância: acreditam que o objeto é totalmente bom, ou totalmente ruim, alternando drasticamente entre o primeiro e o segundo, várias vezes;
Têm dificuldade em verem defeitos ou má qualidades em pessoas na qual consideram totalmente boas ou ótimas. E têm dificuldade em enxergar qualidades boas em pessoas na qual consideram totalmente más ou péssimas, demonstrando uma grande resistência em entender o "meio-termo" das coisas e situações.
Sua opinião de alguém é baseada frequentemente em sua última interação com ele, porque têm dificuldade em integrar os traços bons e ruins de uma só mesma pessoa;
Em cada momento particular, alguém é "bom" ou é "mau", não há nada no meio, nenhuma área cinzenta;
Eles também podem sentir que seus relacionamentos devem ser claramente definidos: ou é amigo ou é inimigo. Ou é seu amante apaixonado ou um companheiro platônico. Esta é a razão porque as pessoas borderlines podem ter dificuldade em ser amigos após o fim de um romance.

Manipulações

Manipulam as pessoas através de chantagens emocionais pouco evidentes como brigas, discussões e conflitos que na verdade são a forma de que encontram para testarem as pessoas das quais necessitam;
Demonstram seus medos através de irritabilidade, mau humor, raiva e agressividade;
Tentam se proteger através da raiva;
Críticas e acusações são típicos mecanismos de defesas usados por borderlines; na verdade eles estão a criticar-se mas o fazem com os outros por não terem coragem de verem o seu verdadeiro "eu".
Às vezes, as críticas e acusações se tornam abuso verbal;
Agem de maneira extrema, exagerada ou manipuladora para conseguirem o que querem;
Acusam os outros de terem dito coisas que nunca disseram, de terem feito coisas que nunca fizeram, de terem acreditado em coisas que nunca acreditaram;
Conseguem reconhecer o ponto fraco das pessoas as quais conhecem muito bem, utilizando de tal conhecimento para manipulações e terem êxito nas suas necessidades;
Chantagistas para conseguirem o que quer;
Eles vivem a testar o amor e afeição das outras pessoas, pois muitas vezes não acreditam que as outras pessoas os amem de verdade.

Instabilidade excessiva

Borderlines têm uma grande instabilidade emocional evidente: pessoas instáveis sentem tudo de forma intensa, ferindo-se facilmente e deixam-se abalar por situações externas e internas por motivos pouco importantes ou até mesmo fúteis. Eles não conseguem manter o mesmo humor e emoções durante um longo período (no caso do borderline, ele não consegue manter um humor estável num mesmo dia, alternando muitas vezes). Uma característica típica de pessoas instáveis emocionalmente são as constantes brigas no ambiente intrafamiliar, por exemplo, por isso são tidos como agressivos, briguentos ou que reclamam demais.
Mudam de comportamento de forma muito rápida, em questão de segundos: com pessoas que conhecem muito bem (tal como familiares e namorado), tratam-nas mal com frequentes discussões e provocações, mudando rapidamente para gentis e adoráveis com as outras pessoas na qual têm pouco intimidade;
Muitas vezes, as outras pessoas não acreditam nos familiares que relatam esse comportamento;
Agem de forma controlada e apropriada em várias situações, mas extremamente fora do controle em outras;
Facilmente desvalorizam alguém. Podem adorar a pessoa em um dia, mas no outro podem odiá-la a ponto de maltratá-la e não se importar disso, afinal, de uma pessoa "perfeita", de repente, passaram drasticamente para uma pessoa "desastrosa" que merece ser tratada assim como ela é vista. Tais desvalorizações rápidas frequentemente são precedidadas por motivos pouco perceptíveis para a outra pessoa que termina sem entender o motivo por qual foi cruelmente maltratada.
Ao tempo que querem a intimidade, eles não querem. Eles têm medo de muita intimidade, por isso alguns relacionamentos podem ser superficiais.
Às vezes eles querem estar perto de outros, outras vezes quer estar longe;
Empurra o outro para longe justamente quando o outro está se sentindo próximo;
Limítrofes tendem a ser aquele tipo que quando querem alguma coisa, ficam ansiando e sentindo uma grande vontade de ter aquilo, contudo, se conseguem, enjoam ou não querem mais;
Eles têm dificuldade em dizer exatamente o que gostam, o que querem, de modo que há uma notável tendência à instabilidade em seus gostos, comportamentos, identidade e auto-imagem;
Eles frequentemente não sabem quem são, não sabem o que gostam, mudam de gosto drasticamente de um segundo a outro, não sabem o que querem ou então mudam de opiniões e objetivos a todo momento;
Sua orientação sexual também pode ser instável: uma boa parte dos borderlines têm dificuldade ou instabilidade em relação à sua própria orientação sexual, sendo que frequentemente também não sabem o que são, mudando rapidamente de uma identidade sexual para outra. Por exemplo, eles podem não ter certeza se são realmente heterossexuais ou homossexuais, ou então podem ser bissexuais (isto não é regra);
Borderlines são enchidos de imagens contraditórias de si mesmos. Eles relatam geralmente que sentem o vazio interior, que são pessoas diferentes dependendo de com quem estão;
Esses indivíduos possuem tanta dificuldade em saber "quem são" que, em casos mais graves, perdem totalmente a noção da sua própria identidade, procuram um modo de "achar-se" em algum outro tipo de identidade, possuem sentimentos de que irão desaparecer ou fundir-se e de que não são reais ou são inexistentes;
Mudam de desejos, opiniões e humor num piscar de olhos;
"Mantenha a distância um pouco próximo": o borderline pode começar a se sentir subjugado ou com medo de estar perdendo o controle quando uma pessoa se aproxima demais dele. Ao tempo que ele quer a intimidade, ele não sabe como estabelecer limites de maneira saudável, e a intimidade genuína pode fazê-lo sentir vulnerável ou abusado. Ele talvez esteja com medo de que o outro possa ver o seu "verdadeiro" eu, fique enojado e o abandone. Então, ele começará a se distanciar para evitar se sentir vulnerável ou controlado. Ele pode arranjar uma briga com o outro, "esquecer" alguma coisa importante ou fazer algo dramático ou explosivo. Mas então a distância o faz se sentir solitário. Os sentimentos de vazio pioram e o seu medo de abandono se torna forte. Então ele faz esforços frenéticos para se aproximar novamente e o ciclo de repete.
O indivíduo limítrofe muda de comportamento drasticamente, sem motivo evidente, tal como passam de um comportamento delicado e gentil para frio, seco ou distante.

Narcisimo e Histrionismo

Podem parecer egoístas ou egocêntricos;
Suas emoções e sentimentos são tão intensos que eles têm dificuldade em colocar as necessidades dos outros em primeiro lugar, acontecendo o contrário: suas necessidades são colocadas antes das dos outros, pouco importando se a pessoa em relação é seu filho, pai, mãe etc.;
Eles se sentem ignorados quando não são o foco da atenção;
Fazem ou dizem algo impróprio para receber atenção e cuidado quando se sentem ignorados. Por quererem atenção, tais traços histriônicos podem estar presentes, tais como: às vezes o borderline pode se vestir sexualmente provocante para receber cuidado e atenção, podem inventar histórias ou exagerá-las, exagerar sintomas ou doenças, entre outros comportamentos a fim de reafirmar sua presença;
Alguns borderlines podem jogar o papel de vítima para si mesmos, porque isso atrai atenção solidária, fornece uma identidade e lhes dá uma ilusão de que não são responsáveis por suas próprias ações;
Há uma evidente exigência narcisista no borderline: alguns borderlines frequentemente trazem o foco da atenção para si mesmos. Algumas pessoas com personalidade borderline puxam a atenção para si mesmos por ficar se queixando de doenças; outras talvez ajam inapropriadamente em público. Esse comportamento narcisista pode ser sobrecarregante especialmente para as outras pessoas que não possuem o transtorno de personalidade borderline, visto que o limítrofe nem mesmo considera como suas ações afetarão a outra pessoa.
Negam os efeitos de seu comportamento em outros, frequentemente diz que os outros exageram;
Cheia de auto-ódio, a pessoa borderline talvez acuse os outros de odiá-la. Com medo de ser abandonada, ela pode se tornar tão crítica e facilmente enfurecida, que por fim desejam realmente abandoná-la. Então, incapaz de enfrentar a causa de sua dor, o borderline pode culpar os outros e se colocar no papel de vítima;
Às vezes, podem ser exageradamente dramáticos, fazendo "tempestade em copo d'água";
Podem ser tidos como incapazes de demonstrar gratidão.

Irritabilidade e Comportamento Briguento

rritam-se muito facilmente, sendo que muitas vezes por motivos inexistentes ou incomprensíveis aos olhos dos outros. Às vezes os familiares não sabem o motivo que levaram o borderline a adotar um comportamento agressivo para com eles, por exemplo.
Eles podem criar crises ou brigas desnecessárias, demonstrando um estilo de vida caótico e desorganizado;
Geralmente, o que parece ser raiva, impulsividade, agressividade e comportamento manipulativo é na realidade uma tentativa mal-orientada de extrair envolvimento e afeição;
O borderline vive constantemente num caos. Ele pode deliberadamente levantar argumentos e isso em constante conflito com outros. Ele também pode ser fanático por drama, desde que isso crie agitação;
Tentam diminuir o vazio, a dor interna e a tensão interior através da raiva e brigas.

Sequelas de Abuso na Infância

Alguns especialistas acreditam que o transtorno de personalidade limítrofe seja uma síndrome consequente de graves sequelas na personalidade, decorrente de abuso na infância;
Uma boa parte das pessoas com o transtorno tiveram uma infância traumática, sobretudo foram abusados sexualmente (porém, isto não é regra geral);
Borderlines têm dificuldade em confiar nas pessoas (especialmente se houve abuso), sobretudo nos indivíduos do mesmo sexo do abusador;
Borderlines com histórico de abuso, podem repetir o roteiro do passado. Eles tendem a se sentir eternamente vitimados porque estão condicionados a esperar o comportamento cruel das pessoas em que confiam. Quando crianças, podem ter se sentido responsáveis pelo seu comportamento abuso. Podem ter acreditado que algo neles levou as pessoas agirem daquela forma cruel. Então, quando adultos, essas crianças anteriormente abusadas esperam o pior das pessoas, existindo sempre um grande pessimismo. Interpretam o comportamento normal como cruel ou negligente e reagem com a raiva, desespero ou humilhação intensa. As pessoas em torno deles ficam confusas porque não podem ver o que realmente provoca o seu comportamento;

Desconfiança e Idéias Paranóides

Borderlines têm dificuldade em confiar nas pessoas;
Têm frequentemente idéias paranóides, estas são maiores em períodos de estresse ou sensação de abandono e solidão;
Borderlines caminham numa linha tênue entre sanidade e a loucura, às vezes se desequilibram e acabam por caminhar francamente na loucura, com alucinações e idéias delirantes, especialmente em situações estressantes, embora não possam ser diagnosticados como totalmente psicóticos ou esquizofrênicos.
Manias de perseguição e pensamentos paranóides são frequentes;
Facilmente interpretam as ações de outras pessoas erroneamente como hostis, ameaçadoras, irritantes ou zombadoras, o que causa um gatilho para explosões de irritabilidade e brigas constantes, porque tendem a reagir da mesma forma pela qual acreditaram ter sido tratados.

Despersonalização

Borderlines podem sentir que não são reais, são inexistentes, especialmente quando estão sozinhos;
Em momentos de grande estresse ou quando percebem o abandono real ou imaginado, podem dissociar-se, existindo assim a despersonalização. Eles frequentemente relatam tal fenômeno sendo frequente, mas que aumentam de intensidade nos momentos em que estão a sós ou sentem-se abandonados, ignorados ou rejeitados;
A despersonalização pode ser referida por uma sensação de irrealidade, de que nada mais é real em sua volta, nem eles mesmos. Podem acreditar estar num sonho ou pesadelo, cuja sensação de irrealidade é fortemente angustiante. Ainda podem relatar que estão num filme e vêem tudo como se estivessem fora do corpo, como se tivessem se desprendido da sua própria personalidade ou do seu corpo. Tais sensações são tão fortes que frequentemente eles acabam por se sentir deprimidos e angustiados, sendo às vezes um gatilho para a auto mutilação (podem se mutilar para sentir que são reais);
Quando estão tendo uma crise de despersonalização, as outras pessoas podem perceber um comportamento levemente anormal, como por exemplo, uma falta de atenção, como se a pessoa estivesse longe, distante ou "viajando";
Alguns borderlines podem conviver dias, semanas e até meses com despersonalização, sendo frequentemente pegos a todo instante pela sensação angustiante de irrealidade e de desprendimento do corpo.
Algumas pessoas relatam que olhar-se no espelho bem como se lembrar da despersonalização piora o quadro, pois sentem-se irreais ou inexistentes;
Borderlines podem ter problemas com a memória e atenção, especialmente em momentos de dissociações tais como a despersonalização. Eles podem ter "brancos" e apagões, esquecimentos sobretudo após as situações de despersonalização.
Após a despersonalização podem sentir ansiedade, causado pela percepção de que realmente estão vivos.
Geralmente a despersonalização é precedida por frequentes indagações e dúvidas a respeito de quem ele é, do que ele gosta. Como o borderline não consegue ter uma identidade concreta e definida, ele não consegue se auto definir, não tem certeza de quem ele é e possui um grande sentimento de ter se perdido de si próprio ou de que sua identidade é falsa ou copiada. Por isso a instabilidade em suas vidas. Sua identidade é, a todo momento, construída e destruída, gerando uma inconstância insuportável.

Sentimentos e Emoções

Possuem intensos sentimentos crônicos de vazio e tédio. Nada os preenche, nada os satisfaz, tudo vira enjoativo, monótono e tedioso rapidamente;
Eles se sentem a maior parte do tempo irritáveis, ansiosos ou desconfiados;
Eles se sentem ignorados por motivos insignificantes para outras pessoas;
Raramente dizem com palavras que têm medo de serem rejeitados. Sempre demonstram isso através de manipulações, chantagens, discussões e agressões, mas jamais admitem;
Acreditam que "quem ama não abandona", se "não ama, então, odeia" (pensamento extremista);
Recordam de situações de modo muito diferente de outras pessoas ou então se acham incapazes de se lembrar de tudo;
Se veem como pessoas más (ou fora dos padrões);
Por terem esse tipo de sentimento, eles frequentemente demonstram baixa responsabilidade por si só;
Eles se sentem muito merecedores de atenção, entretanto, sentem-se como se nunca conseguissem, como se nunca fossem receber amor, atenção e afeto. Uma simples "não" de uma pessoa significante para o borderline, é vista como prova de rejeição, motivo para mudar radicalmente de humor;
Sentem-se irreais, inexistentes ou fora de si, como se não tivessem uma personalidade;
Eles não têm uma identidade bem formada. Tal identidade é destruída e remontada a toda hora, por isso a instabilidade e incertezas são constantes na vida de um borderline.
Tentam preencher o vazio interno através de comportamentos exagerados;
Borderlines olham para outros para conseguir coisas que se acham difíceis de suprir a si mesmos tais como aprovação, otimismo e identidade;
O medo de abandono ou rejeição nessas pessoas é tão grande que a perda potencial de um relacionamento é como a perda de um braço ou perna, ou mesmo a morte. Ao mesmo tempo, sua auto-estima é tão baixa que não entendem por que alguém poderia querer viver com eles. Por isso são hipervigilantes, estão o tempo todo tentando achar uma forma de comprovar que a outra pessoa não o ama de verdade. Quando suas suspeitas são supostamente confirmadas, podem estourar em raiva, fazer acusações, chantagens, provocações, agredir, procurar vingança, mutilar-se, ter um caso, mentir e entre outras inúmeras situações extremas;
São intolerantes às ambiguidades humanas;
Às vezes eles se acostumam a aproximar-se das pessoas de modo amigável e adorável, a fim de que cuidem-no. Mas depois percebem que nenhuma dessas pessoas são capazes disso, porque embora se sintam como uma criança por dentro, eles se parecem como adultos por fora.
Borderlines têm uma visão infantil do mundo: ambivalência, problemas constantes de objetivo, problemas de abandono/subjugamento, impaciência, problemas de identidade, exigências narcisistas, aparente falta de empatia e manipulação são todos pensamentos borderlines que imitam estágios de desenvolvimento nas crianças.
Quando uma criança de dois anos quer alguma coisa, ela quer isso agora, não amanhã. Quando o borderline está fazendo compras, por exemplo, ele é assim. Ele não consegue dizer não a si mesmo, então ele compra, mesmo que esteja com dívidas. Para uma criança, a coisa mais importante é a segurança. Para borderlines, também. Para eles, segurança significa ser o que os outros querem que ele seja para eles não os rejeitarem. O interior permanece escondido. Mas por baixo de toda a delicadeza e gentileza aparente, se esconde uma criança furiosa e aterrorizada, que é vista
apenas por pessoas muito íntimas.

Pensamentos Borderline

"Eu tenho que ser amada por todas as pessoas importantes na minha vida o tempo todo senão isso significa que eu sou desprezivel";
"Algumas pessoas são ótimas e tudo sobre elas é perfeito. Outras pessoas são inteiramente péssimas e devem ser severamente censuradas e punidas por isso";
"Odeio quando as pessoas não dão atenção para mim;
"Eu não tenho controle sobre meus sentimentos ou as coisas que faço em consequência deles;
"Ninguém se importa comigo tanto o quanto deveria, então eu sempre perco todos com quem me importo - apesar das coisas desesperadas que eu tento fazer para impedi-los de me abandonar";
"Quando eu estou sozinha, eu me torno ninguém e nada";
"Eu não consigo parar a frustração que eu sinto quando necessito algo de alguém e não sou capaz de receber isso."
"O que será que eu fiz para ele(a) me olhar com desdém ?"
" Não importa o que eu faça, essa instabilidade sempre irá me mostrar a infantilidade que há dentro de mim."

Critérios do DSM-IV-TR

A última versão do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM-IV-TR) - o guia americano amplamente usado por médicos à procura de um diagnóstico de doenças mentais – define o TPL (código do DSM-IV-TR: 301.83) como: “um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos”. Um diagnóstico de TPL requer cinco dos nove critérios listados no DSM e que os mesmos estejam presentes por um significante período de tempo.
Os critérios são:
Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. [Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério.
Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self (si mesmo).
Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias como drogas e bebidas, direção imprudente, comer compulsivamente, roubo compulsivo e patológico, entre outros.). [Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério.
Recorrência de comportamentos, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e raramente mais de alguns dias).
Sentimentos crônicos de vazio.
Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex, demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
Ideação paranóide transitória (por ex, sentir-se perseguido) e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos (por ex, a despersonalização e processos amnésicos intensos).

Explicação dos critérios do DSM-IV-TR

O DSM prossegue em dizer:
Critério 1: Os portadores deste transtorno fazem esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. Quando existe a percepção de rejeição, separação ou de perda da estrutura externa, os borderlines podem sofrer profundas mudanças na auto-imagem, cognição, afeto e no comportamento.
Critério 2: Os indivíduos com TPL têm um padrão de relacionamentos instáveis e intensos. Podem idealizar um potencial prestador de cuidados ou amante logo nos primeiros momentos, entretanto, pode ocorrer uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente, não está "lá" o suficiente.
Os afetados pelo TPL podem sentir empatia e carinho pelos outros, porém, esses sentimentos só surgem pela expectativa de que a outra pessoa também "estará lá" para atender suas próprias necessidades, assim que exigido. Os indivíduos borderlines estão inclinados a mudanças repentinas e drásticas em suas opiniões sobre os outros, que são vistos alternadamente como salvadores bondosos ou como vilões punitivos. Tais mudanças refletem a desilusão com uma pessoa cujas qualidades foram idealizadas ou cuja rejeição ou abandono estão iminentes.
Critério 3: Pode haver uma perturbação de identidade caracterizada por uma auto-imagem ou sentimento de si mesmo persistentemente instáveis. Mudanças súbitas e drásticas na auto-imagem são observadas por objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança. Borderlines podem exibir mudanças repentinas de opiniões e planos acerca da carreira, identidade sexual, valores e tipos de amigos. Além disso, podem mudar subitamente do papel de coitados e carentes de apoio para vingadores de abusos e maus tratos passados.
Mesmo que geralmente possuam uma auto-imagem de "malvados", os indivíduos com o TPL podem, algumas vezes, sentir que eles não existem de verdade. Experiências assim ocorrem, tipicamente, em períodos em que o indivíduo sente falta de um relacionamento significativo, carinho e apoio. Limítrofes podem apresentar pior desempenho em situações de trabalho ou escolares não estruturadas.
Critério 4: Borderlines são impulsivos em, pelo menos, duas áreas potencialmente prejudiciais a si próprios. Podem jogar patologicamente, fazer gastos irresponsáveis, comer em excesso (compulsão também por doces é freqüente, principalmente nas mulheres), furtar/roubar (cleptomania), abusar de drogas e/ou bebidas (ex.: álcool, café, energéticos etc.), fazer sexo inseguramente, dirigir imprudentemente e até mesmo usar algum tipo de lazer de forma excessiva e patológica (ex.: televisão, computador, exercícios físicos etc.).
Critério 5: Limítrofes exibem, de maneira recorrente, comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou comportamento automutilante.
O suicídio completado ocorre entre 8 e 10% desses pacientes, atos de automutilação (por ex, cortes ou queimaduras) e ameaças suicidas são muito comuns. As tentativas recorrentes de suicídio são, quase sempre, a principal causa da busca de ajuda. Atos autodestrutivos são usualmente precipitados por ameaças de separação ou rejeição.
A automutilação rotineiramente acontece durante experiências dissociativas e traz alívio pela reafirmação da capacidade de sentir (e existir).
Critério 6: Os portadores do Transtorno da Personalidade Borderline podem apresentar instabilidade afetiva, seguida de uma grande reatividade do humor. Essa labilidade do humor é freqüentemente notada por mudanças bruscas do humor num só dia (por ex, disforia intensa, irritabilidade e ansiedade, que duram algumas horas e raramente mais de um(s) dia(s)). É o caso do borderline que passa do bem estar para a depressão profunda, da depressão à irritabilidade extrema e, em seguida, para a ansiedade (não necessariamente nessa ordem), sendo difícil para os borderlines, ficarem por muito tempo se sentindo totalmente bem.
O humor dos borderlines é basicamente disfórico e alterna-se com períodos de raiva, pânico ou desespero e é, raramente, aliviado por fases de bem-estar. Episódios assim refletem a intensa reatividade do portador a estresses interpessoais.
Critério 7: Limítrofes podem ser incomodados por recorrentes sentimentos de vazio. Facilmente entediados, sempre procuram algo para fazer.
Critério 8: As pessoas com este transtorno de personalidade rotineiramente expressam raiva extrema e inadequada e/ou têm dificuldade em controlar sua raiva. Borderlines podem exibir extremo sarcasmo, explosões verbais ou amargura persistente.
A raiva aparece, muitas vezes, quando um prestador de cuidados ou amante é visto como omisso ou indiferente e prestes a abandoná-lo. As expressões de raiva, na maior parte das vezes, são seguidas de vergonha e culpa e contribuem para o sentimento de ser "mau".
Critério 9: Em episódios de estresse, podem ocorrer ideações paranóides (exemplo: sentir-se enganado, perseguido, espionado) ou sintomas dissociativos severos (por ex, despersonalização), no entanto, estes sintomas são transitórios e de gravidade limitada, insuficientes para um diagnóstico adicional.
Episódios paranóicos ou dissociativos ocorrem geralmente em resposta a um abandono real ou imaginado. Os sintomas tendem a ser breves, durando minutos ou horas. O retorno real ou percebido do carinho da pessoa prestadora de cuidados ou amante pode ocasionar a remissão desses episódios.

Diagnósticos Comparáveis

A Classificação Internacional de Doenças - Volume 10 (CID-10), da Organização Mundial da Saúde, tem um diagnóstico comparável chamado Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável – Tipo Borderline (F60.31). Nele (além do critério geral de transtorno de personalidade) se requer perturbações e incertezas sobre a auto-imagem, metas, preferências internas (incluindo sexualidade), oscilações de humor, tendência em se envolver em relações intensas e instáveis freqüentemente levando a crises emocionais, excessivos esforços para se evitar abandono, pensamentos e ameaças recorrentes ou atos de autolesão e suicídio; e sentimentos crônicos de vazio.
A Sociedade Chinesa de Psiquiatria tem outro diagnóstico comparável chamado Transtorno de Personalidade Impulsiva. Um paciente diagnosticado com TPI deve demonstrar "explosões afetivas" e "demonstrável comportamento impulsivo", mais três de oito sintomas. Este diagnóstico é descrito como um híbrido dos subtipos impulsivo e borderline do Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável do CID-10, e também incorpora seis dos nove critérios do DSM-IV-TR.
Também chamado de Transtorno Explosivo Intermitente, ou TEI, transtorno que é provocado pela baixa serotonina no cérebro. A diminuição desse neurotransmissor no cérebro prejudica a transmissão de informações de um neurônio para o outro, o que leva a situações de descontrole e agressividade.

Cisão no Paciente Borderline

No Transtorno de Personalidade Borderline, cisão (splitting) é um erro cognitivo característico. Esse erro é uma defesa primitiva e representa a tendência em se completamente idealizar ou completamente desvalorizar outras pessoas, lugares, idéias, ou objetos; o que significa, vê-los como totalmente bons ou totalmente maus.
Segundo alguns teóricos como Otto Kernberg, é um comportamento no ser humano, enquanto criança pequena, dividir o mundo entre "bom" e "mau". A criança não está emocionalmente madura o bastante para saber lidar com as diferenças e imperfeições das outras pessoas/coisas. Em alguma fase do desenvolvimento infantil, o indivíduo aprende a enxergar o meio-termo e a neutralidade existentes nos outros e o comportamento de separação primitivo é superado.
No TPL, por diversas razões, o mecanismo de separação se mantém na idade adulta e cria uma instabilidade emocional que afeta severa e negativamente a vida dos pacientes borderlines. Essa cisão pode resultar problemas como o estupro e envolvimento com drogas pelo mau julgamento ao escolher parceiros e estilos de vida.




Diagnósticos Diferenciais

O transtorno de personalidade limítrofe pode ser confundido com outras desordens da personalidade, especialmente o transtorno de personalidade histriônica, psicopatia e dependente.
No transtorno de personalidade histriônica, ambos compartilham características como oscilação emocional, necessidade de atenção, manipulações, intolerância às frustrações, monotonia e regras, hipersensibilidade emocional, impulsividade, instabilidade e dissociações, mas em geral, podem distinguir-se pelas principais características do borderline, como a tendência suicida, esforços excessivos para evitar o abandono e grande sentimento de raiva que borderlines demonstram, além do mecanismo de cisão-extremo (idealização total ou desvalorização total) que limítrofes veem o mundo. Enquanto isso, histriônicos demontram um comportamento exuberante ou chamativo, manipulador e sedutor, teatral, aparentemente fingido e modulando suas encenações conforme as pessoas ou circunstâncias. Histriônicos também podem fazer ameaças ou tentativas suicidas, mas em geral, são raras. Entretanto, nada impede que os dois distúrbios ocorram juntos; pelo contrário, é muito frequente características histriônicas em indivíduos borderlines.
No transtorno de personalidade antissocial ou psicopatia, apesar de muito semelhantes, as duas personalidades se diferenciam porque antissociais não tendem caracteristicamente ao comportamento suicida, cisão e medo de abandono, com esforços excessivos para evitá-los. Psicopatas, via de regra, manipulam para conseguir bens materiais, financeiros ou que lhe proporcione prazer, enquanto borderlines manipulam a fim de conseguir apoio e afeto. Porém, vale repetir que nada impede que os dois transtornos ocorram simultaneamente. Quando ocorrem, as características borderline e antissociais tornam-se muito perturbadoras e, quase sempre, não possuem um tratamento eficaz. Quase sempre o borderline apresenta sintomas de psicopatia o que o torna tanto auto quanto hétero destrutivo, podendo terminar em sérias consequências para a própria pessoa e a sociedade.
No transtorno de personalidade dependente, ambas personalidades compartilham dependência emocional, com grande medo de abandono e rejeição, hipersensibilidade, baixa tolerância às críticas e e imaturidade emocional. Contudo, elas se diferenciam porque enquanto o dependente ao terminar relacionamentos íntimos, prestam a colocar-se como submissos, borderlines tendem a terminar de forma explosiva, com sentimento raiva em relação à pessoa amada. Além da diferença entre outras características como auto-agressão, manipulação emocional, comportamento suicida e tendências impulsivas no indivíduo limítrofe.

Prevalência

Estatísticas provam que a prevalência do Transtorno de Personalidade Limítrofe varia de 1% a 2% na população geral. As mulheres correspondem a 75% dos diagnosticados, na proporção de que para três mulheres diagnosticadas, um homem é diagnosticado. Limítrofes correspondem aproximadamente a 20% das populações prisionais, 10% das populações de atendimento ambulatorial e 20% das populações internadas em hospitais psiquiátricos. O suicídio é 800 vezes maior que na população geral e 10% entre esses pacientes.

Etiologia – Causas e Influências

Pesquisadores acreditam que o TPL resulta de uma combinação que envolve uma infância traumática, componentes genéticos e acontecimentos estressantes durante a adolescência, além de disfunções no funcionamento cerebral.


Abuso Infantil, Trauma ou Negligência

Numerosos estudos mostraram uma forte relação entre abuso infantil e o desenvolvimento de TPL. Muitos indivíduos com TPL reportam uma história de abuso, negligência e separação quando crianças. Pais de portadores foram apontados como tendo falhado em dar a proteção necessária, e negligenciado os cuidados físicos de seus filhos. Pais (de ambos os sexos) foram tipicamente reportados como tendo negado a validade dos pensamentos e sentimentos de seus filhos, de se retirarem emocionalmente em algum momento e terem tratado a criança inconsistentemente. Orfandade de algum (ou dois) dos pais também é comum entre esses pacientes. É comum, ainda, encontrar uma história de abuso sexual por um não responsável (principalmente nas mulheres) entre portadores de TPL. Alnguns dos casos, a forma de negligencia não se dá somente na infância, pessoas que sofrem instabilidade durante a fase de formação, como na adolescencia, também são propensas a apresentar os sintomas de TPL. De acordo com Joel Paris, “Alguns pesquisadores, como Judith Herman, acreditam que o Transtorno de Personalidade Limítrofe é um nome dado a uma manifestação particular do Estresse Pós-Traumático (EPT)". No entanto, Paris considera essa conclusão como não comprovada, uma vez que muitos portadores de TPL não têm uma grave história de traumas.

Genética

A literatura existente sugere que traços relacionados ao TPL são influenciados por genes e já que a personalidade é geralmente hereditária, então o TPL também deve ser, no entanto estudos têm tido problemas metodológicos e as ligações exatas não estão claras ainda. Um estudo maior de gêmeos idênticos descobriu que se um deles atingir o critério de TPL, o outro também atinge em um terço (35%) dos casos. Filhos de pais (de ambos o gêneros) com TPL têm cinco vezes mais chances de também desenvolver o Transtorno de Personalidade Limítrofe ou o Transtorno de Personalidade Anti-Social (Sociopatia).

Funcionamento Cerebral

Neurotransmissores relacionados com o TPB incluem serotonina, noradrenalina, acetilcolina (relacionada a várias emoções e ao humor); ácido gama-aminobutírico (o maior neurotransmissor inibidor no cérebro, que pode estabilizar a flutuação de humor); e o ácido glutâmico (um neurotransmissor responsável pelo prazer).

Tratamento

Psicoterapia

Tradicionalmente há um ceticismo em relação ao tratamento psicológico de transtornos de personalidade, mesmo assim muitos tipos específicos de psicoterapia para TPB foram desenvolvidos nos últimos anos. Os estudos (limitados) já registrados não confirmam a eficácia desses tratamentos, mas pelo menos sugerem que qualquer um deles pode resultar em alguma melhora. Terapias individuais simples podem, por si mesmas, melhorar a auto-estima e mobilizar as forças existentes nos borderlines. Terapias específicas podem envolver sessões durante muitos meses ou, no caso de transtornos de personalidade, muitos anos. Psicoterapias são frequentemente conduzidas com indivíduos ou com grupos. Terapia de grupo pode ajudar a potencializar as habilidades interpessoais e a autoconsciência nos afetados pelo TPB.
Exemplos comuns de terapias indicadas aos limítrofes incluem:
Terapia comportamental dialética: Estabelecida nos anos 1990, a terapia comportamental dialética se tornou uma forma de tratamento do TPB, originada principalmente como uma intervenção para pacientes com comportamento suicida.
Essa forma de psicoterapia deriva da terapia cognitivo-comportamental e enfatiza a troca e negociação entre o terapeuta e o cliente, entre o racional e o emocional, e entre a aceitação e a mudança. O tratamento tem como alvo os problemas com a automutilação. O aprendizado de novas habilidades é um componente principal, incluindo consciência, eficácia interpessoal, cooperação adaptativa com decepções e crises; e na correta identificação e regulação de reações emocionais.
Terapia de esquemas: Outra forma de terapia que também se estabeleceu nos anos 1990 e tem como base uma aproximação integrativa derivada de técnicas cognitivas-comportamentais juntamente com relações objetais e técnicas da gestalt. Esta terapia se direciona aos mais profundos aspectos da emoção, personalidade e esquemas (modos fundamentais de relacionamento com o mundo). A terapia também foca o relacionamento com o terapeuta (incluindo um processo de quase paternidade), vida diária fora da terapia, e experiências traumáticas na infância.
Terapia cognitivo-comportamental: A TCC é o tratamento psicológico mais usado em doenças mentais, mas parece ter menos sucesso no TPB, devido parcialmente às dificuldades no desenvolvimento de uma relação terapêutica e aderência à terapia. Um estudo recente descobriu que resultados com essa terapia aparecem, em média, depois de 16 sessões ao longo de um ano.
Terapia matrimonial ou familiar: Terapia matrimonial pode ajudar na estabilização da relação matrimonial e na redução dos conflitos matrimoniais que podem piorar os sintomas do TPB. Terapia familiar pode ajudar a educar os membros da família acerca do TPB, melhorar a comunicação familiar, e prover suporte aos membros da família ao lidar com a doença de seus amados.
Psicanálise: Com o ensino de Jacques Lacan, a clínica psicanalítica progrediu muito no que diz respeito ao tratamento deste quadro, oferecendo a possibilidade para o paciente de fazer novos ajustes, o que, consequentemente, provoca o apaziguamento dos sintomas e do sofrimento psíquico.
Um dos maiores problemas com as psicoterapias são os elevados números de abandono das mesmas pelos portadores de TPB.

Medicação

Indivíduos com TPL às vezes necessitam serviços mentais extensivos e têm sido contados como 20% das hospitalizações psiquiátricas. A maioria dos pacientes com TPL continua usando tratamento fora do hospital por muitos anos. A experiência dos serviços varia. Acessar os riscos de suicídio pode ser um desafio para profissionais da área mental (e pacientes tendem a subestimar a letalidade de seus atos) já que a taxa de suicídio é muito maior daquela do restante da população. Limítrofes são descritos pelos funcionários hospitalares com extremamente difíceis de lidar.

Dificuldades na Terapia

Existem desafios únicos no tratamento de TPL. Na psicoterapia, um cliente por ser bastante sensível à rejeição e pode reagir negativamente (por ex, se mutilando ou abandonando a terapia) se sentir isso. Além do mais, profissionais da área podem se distanciar emocionalmente dos indivíduos com TPL por auto-proteção devido ao estigma associado com o diagnóstico.

Outras Estratégias

Psicoterapias e medicamentos formam a parte principal do contexto geral dos serviços da saúde mental e das necessidades psicosociais relacionadas ao TPL.

Remissão dos Sintomas e Possível Estabilidade

Estatísticas sugerem que, com o devido tratamento, portadores de Transtorno de Personalidade Limítrofe tendem a sofrer recessão dos sintomas em algum momento da fase adulta posterior. Dos que procuram ajuda profissional de uma maneira geral, 75% sofrem remissão da maior parte dos sintomas entre os 35 e 40 anos de idade, 15% entre os 40 e 50 anos de idade e os 10% restantes podem não apresentar resultados satisfatórios ou podem cometer suicídio.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Psicose



Psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa "perda de contato com a realidade". Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer (variando de caso a caso) alucinações ou delírios, desorganização psíquica que inclua pensamento desorganizado e/ou paranóide, acentuada inquietude psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão, e insônia severa. Tal é frequentemente acompanhado por uma falta de "crítica" ou de "insight" que se traduz numa incapacidade de reconhecer o carácter estranho ou bizarro do comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de interacção social e em cumprir normalmente as actividades de vida diária.
Uma grande variedade de estressores do sistema nervoso, tanto orgânicos como funcionais, podem causar uma reação de sintomatologia, semelhante, porém não igual, a estrutura psicótica. Muitos indivíduos têm experiências fora do comum ou mesmo relacionadas com uma distorção da realidade em alguma altura da sua vida sem necessariamente sofrerem grandes consequências para a sua vida. Como tal, alguns autores afirmam que não se pode separar a psicose da consciência normal, mas deve-se encará-la como fazendo parte de um continuum de consciência.
Para o psicodiagnósitco são feitas observações clínicas que incluem a anamnese, a história de vida do sujeito, seu quadro psicológico e de doenças. A depender do caso, pode-se chegar a meses para um quadro correto. O diagnóstico é feito com base na psicopatologia clínica e teórica. Dois guias de classificação diagnóstica internacionais podem ser usados como referência, principalmente epidemiológica: o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (o atual é oDSM-IV), e a CID-10, a Classificação Internacional de Doenças. Na CID-10, adotada no Brasil como classificação de referência, as psicoses se encontram classificadas nas siglas F.20 a F.29; F.30, F.31, F.32.2 e F.32.3.
Sobre as principais características clínicas das psicoses, pode-se afirmar:
- São psicologicamente incompreensíveis (segundo Jaspers)
- Apresentam vivências bizarras,como delírios, alucinações, alterações da consciência do eu.
- Não existem alterações primárias na esfera cognitiva. Memória e nível de consciência não estão prejudicados, se isto acontece é devido a outras alterações psíquicas, bem como devido a substâncias psicoativas.


Como tal, a psicose pode ser causada por predisposição genética, fatores exógenos orgânicos mas desencadeados por fatores ambientais, psicossociais, com acentuadas falhas no desempenho de papéis, na comunicação, no autocontrole, no comportamento da afetividade, na percepção sensorial, na memória, no raciocínio, no pensamento e linguagem. Há perda do senso da realidade e da capacidade de testá-la e, em casos extremos, do autoconhecimento, deixando o paciente de cuidar-se no aspectos mais triviais, como a alimentação e a higiene pessoal.
Na psicanálise, a psicose causou dificuldades teóricas para Freud, mas não para Lacan. Se o primeiro demonstrou-se hesitante em enquadrá-la teoricamente, concentrando-se na neurose, Lacan, tomando-a constantemente em suas conferências, associou-a à forclusão do nome-do-pai.
As definições de psicose em geral descrevem as classes de eventos que configuram sua natureza ou essência, apontam-lhe as causas e variações. Assim, haverá importantes distinções quanto ao conceito; caso venha a ser formulado no campo das Ciências da Saúde terão diferentes conotações das formuladas no campo Religioso, Poético dou das Ciências Humanas. Michel Foucault em seu texto A história da Loucura aponta que a loucura (posteriormente chamada de psicose) poderia ser entendida como uma aberração da conduta em relação aos padrões ou valores dominantes numa certa sociedade; neste sentido, entender a psicose é também buscar entender quais os padrões dominantes e quais as reações do grupo social à tais condutas estranhas e aos seus agentes.